Os livros e as suas leituras ou escrituras inspiraram, desde D. Quixote, muitos romances, contos e poesias. Creio que a situação atual da cultura letrada foi certamente melhor retratada neste belo romance do escritor italiano (nascido em Cuba) do que em qualquer trabalho ensaístico. Sua leitura abriu-me uma janela privilegiada (ao lado de um dos grandes escritores contemporâneos) sobre a experiência do ler, do escrever, do editar livros, sobre autoria e a contrafação, num texto belíssimo. Ítalo Calvino (1923-1985) foi também ensaísta e crítico da cultura contemporânea. Teve ainda uma experiência como colaborador da editora Einaudi.
Volto sempre a esta obra iluminadora. No Brasil foi feita uma tradução (por Margarida Salomão) editada pela Nova Fronteira, em 1982, de onde retirei o trecho abaixo, e há também outra, editada pela Cia. das Letras, que me faz lembrar de uma querida amiga que ma presenteou.
"Há uma linha que separa: de um lado os que fazem livros, de outro os que lêem. Quero continuar a fazer parte daqueles que lêem, e por isso presto muita atenção para me manter sempre deste lado da linha. Senão, o prazer desinteressado de ler já não existe, ou ao menos se transforma em alguma outra coisa, que não é o que eu quero. É uma fronteira imprecisa, que tende a desaparecer: o mundo daqueles que têm relação profissional com os livros está cada vez mais povoado, e tende a se identificar com o mundo dos leitores. Evidentemente os leitores também são cada vez mais numerosos, mas pode-se dizer que o número daqueles que utilizam os livros para produzir outros livros cresce definitivamente mais depressa que o número daqueles que gostam dos livros para ler. Sei que se eu transpuser o limite, mesmo acidentalmente, arrisco me perder, nesta maré que sobe; conclusão: recuso-me a pôr, mesmo por alguns minutos, os pés numa editora."
Proponho a você, leitor ou leitora, que, se ainda não leu, busque esta obra em alguma livraria ou sebo e leia-a. Aos que a leram, convido a compartilharem conosco suas impressões de leitura.
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