Noturno
A noite é silenciosa.
Um gesto
a quebraria em mil pedaços.
Talvez um grito
Não a estilhaçasse tal um gesto.
É hora de ficar parado
sentado imovelmente na cadeira.
Vejo a noite em meu redor:
Desgasta a pedra, os campos,
meus cabelos, tudo quanto toco.
Não me esforçarei agora.
Sentado aqui nesta cadeira
ouvirei seu falar mudo e convincente:
ensina mais que os longes todos,
mais que os alfarrábios.
Mais,
muito mais.
Encontros
De minha estante
um a um
convoco mortos que ainda falam.
Outras vozes
há muito caladas
no vinil vão acordando.
Recostado na poltrona amiga
reverente
ergo o meu vinho:
o mesmo velho sol aquece a sala.
Fidelidade
(para um amante de livros)
Amoroso
pleno de prazer
visitas os teus velhos livros.
De dorso em dorso passeias
e relembras.
Teus longos dedos
trêmulos de pudor e de desejo
mal roçam as suas peles crespas.
Se entreabertos
eles te trazem o universo
o cheiro
das entranhas do universo.
Ansioso, terno
as páginas penetras
cuidando serem virgens.
E elas
em sua calma complacência
uma vez mais
te acolhem.
(do livro Poemas, Niterói: Parthenon, 2005)
http://www.parthenon.art.br/
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