Sob as condições do manuscrito, o papel de um autor era tão vago e incerto quanto o de um menestrel. Daí que a expressão própria fosse de pouco interesse. A tipografia inaugurou um meio que possibilitou falar alto e bom som ao próprio mundo, como antes fora possível circunavegar o mundo dos livros, devidamente enclausurado no mundo pluralístico das celas monásticas. A audácia dos tipos criou a audácia da expressão.
A uniformidade também atingiu as áreas da fala e da escrita, as composições escritas passando a se pautar por um mesmo tom e atitude em relação ao leitor e em relação ao assunto. Nascera o “homem de letras”. Estendido à palavra falada, este equitom letrado capacitou os literatos a manterem um “tom elevado” mesmo em discursos contundentes e facultou aos prosadores do século XIX a possibilidade de assumirem qualidades morais que poucos hoje se preocupariam em imitar.
*Trecho do capítulo 18, "A palavra impressa, o arquiteto do nacionalismo", do livro Os meios de comunicação como extensões do homem [1964], traduzido por Décio Pignatari para a Editora Cultrix, de S. Paulo, 1969, p. 203.
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