terça-feira, 20 de março de 2007

Perdemos um amigo e um notável bibliófilo

O médico-cirurgião Miguel Freitas Pereira, nascido em 29 de setembro de 1923, em Campos (RJ), formado pela Faculdade Fluminense de Medicina (1948), alcançou prestígio e reconhecimento na sua área profissional. Entretanto, podemos arriscar que grande parte de sua longa vida dedicou a ler e a formar a bela biblioteca pessoal, estimada em mais de 30 mil volumes. Era conhecido como um requintado colecionador de livros, com foco especial em obras de história da medicina, área que estudou profundamente. Mas seus interesses eram múltiplos. Lia os clássicos da literatura, no original, em várias línguas, incluindo o latim. E conhecia bem o grego clássico.

Quando conheci sua biblioteca fiquei impressionado não só com a riqueza de seu acervo mas com tantos cadernos manuscritos do que me pareceu serem rascunhos para um original de história da medicina ou da cirurgia. Uma obra sem fim de um leitor impenitente. Terá algum amigo ou discípulo para organizar e publicar suas notas, certamente ricas e preciosas?

Devo-lhe, além de reiterados gestos de atenção e gentileza, a indicação e a cópia de uma página de Pedro Nava sobre “Livros velhos de medicina”, publicada originalmente em 1947, no livro Território de Epidauro, que (ao que sei) só ele tinha – recentemente a Ateliê o reeditou –, da qual aproveitei em uma epígrafe de Livraria Ideal, do cordel à bibliofilia, 1999, um trecho: “O livro imundo, empoeirado, rasgado, fosco, desconjuntado, fervilhando de bichos e que vai ser espanado página por página, ungido em cada ferida, esticado, passado a ferro, restaurado, reabilitado, - e, finalmente, reintegrado na vida das estantes vivas!”.

Miguel Freitas Pereira creio que só publicou um livro, de poesia, em parceria com outro médico poeta, Carlos Cesar Soares, Duas faces do prisma, editado pelo Grupo Mônaco, de Niterói, em 1975.
Qual o será o destino de seus livros? Sua biblioteca é talvez o melhor espelho da vida de Miguel Freitas Pereira, o querido Dr. Miguel, conhecido de todos os sebistas do Rio de Janeiro e fraternal amigo de Carlos Mônaco, o maior de Niterói.

Um comentário:

Henrique Chaudon disse...

Aníbal:
Tive uma ocasião a oportunidade de conhecer a coleção do Dr. Miguel. Eu recuperei um pequeno móvel para ele e quando o fui entregar, começamos uma conversação a respeito de livros,e ele me levou a seu santuário. Fiquei fascinado!
Fazendo um eco, ainda que tardio, onde estão, ou o que aconteceu com aquela fantástica coleção? Você sabe? Quem saberá?
Este comentário não precisa ser publicado, fica em 'off'.(Ou a seu critério).Abraço.