Naquele tempo, a palavra empenhada valia mais do que papel passado. Fui criado ouvindo que selar contrato com um fio de barba era a melhor forma de garantir seu cumprimento e que não havia condição humana mais desprezível do que a do homem sem palavra.Quando cresci, dei-me conta de que, na cidade que se modernizava, a palavra havia perdido o valor em meio a um emaranhado de leis confusas e de ações judiciais intermináveis. Só vinha ao caso o que estivesse registrado em cartório.
Contraditoriamente, assisti à recuperação do valor ético da palavra justamente entre aqueles que a sociedade considera sua escória mais indigna: os ladrões, os traficantes e os assassinos presos nas cadeias.
Excerto do artigo publicado, com o título acima, na Folha de S. Paulo, de hoje. Leia a íntegra em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq3103200724.htm
Vivemos um tempo em que a hegemonia do escrito, como referência cultural e mesmo legal, está sendo colocada em xeque. A cultura da oralidade retorna revalorizada, sob diferentes prismas. E não é d’agora. Em 1989, Ricardo Paseyro, um escritor uruguaio que era representante diplomático de seu país na França (até ser destituído após o golpe militar) publicou, pela Robert Laffond, o livro Éloge de l'analphabétisme à l’usage dès faux lettrés, que foi traduzido e publicado em português, em 1990, pela Europa-América, a grande editora de Francisco Lyon de Castro, sediada nos arredores de Lisboa, com o título Elogio do analfabetismo. E na capa dessa edição se acrescenta: “Ensaio sobre a incultura letrada ou de como foi usurpado o lugar dos depositários do verdadeiro saber”.
Não creio que o livro tenha tido grande repercussão. Hoje os tempos lhe seriam mais favoráveis. Fica a sugestão.
Contraditoriamente, assisti à recuperação do valor ético da palavra justamente entre aqueles que a sociedade considera sua escória mais indigna: os ladrões, os traficantes e os assassinos presos nas cadeias.
Excerto do artigo publicado, com o título acima, na Folha de S. Paulo, de hoje. Leia a íntegra em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq3103200724.htm
Vivemos um tempo em que a hegemonia do escrito, como referência cultural e mesmo legal, está sendo colocada em xeque. A cultura da oralidade retorna revalorizada, sob diferentes prismas. E não é d’agora. Em 1989, Ricardo Paseyro, um escritor uruguaio que era representante diplomático de seu país na França (até ser destituído após o golpe militar) publicou, pela Robert Laffond, o livro Éloge de l'analphabétisme à l’usage dès faux lettrés, que foi traduzido e publicado em português, em 1990, pela Europa-América, a grande editora de Francisco Lyon de Castro, sediada nos arredores de Lisboa, com o título Elogio do analfabetismo. E na capa dessa edição se acrescenta: “Ensaio sobre a incultura letrada ou de como foi usurpado o lugar dos depositários do verdadeiro saber”.
Não creio que o livro tenha tido grande repercussão. Hoje os tempos lhe seriam mais favoráveis. Fica a sugestão.
Quem sabe uma visão latino-americana poderia dialogar, em proveito do raro leitor, com o recente livro de Pierre Bayard, Comment parler des livres que l’on n’a pas lus (“Como falar de livros que não se leu”), que está sendo tema de "discussão" no Grupo Cultura Letrada http://groups.google.com/group/cultura-letrada , por proposta de Simone Amorim? E que Márcia Abreu (e nós) quer ver publicado no Brasil.
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