segunda-feira, 2 de abril de 2007

2 de abril - Dia Internacional do Livro Infantil


Querido Francesco, era uma vez um menino loiro, que brincava com o seu pai num grande parque, e havia muitos animais, e uma joaninha que, voando, pousou na sua mão, e o menino compreendeu, sem dar-se conta, que aquela joaninha queria uma história; e quem devia inventar a história era ele, pois a joaninha não tinha uma história dela. E o menino começou a contar uma história na qual a joaninha era um pequeno bicho que vivia nos livros, escondia entre as páginas, e sabia fazer mágica, sabia mudar a ordem das letras impressas, voando de uma página para outra, de forma que cada vez que você pegasse o livro pudesse ler uma história diferente, não muito diferente, no entanto, só um pouquinho. Pois lá bem no fundo, Francesco, as histórias não são tão diferentes assim, umas das outras, só um pouquinho, como a sua história da joaninha, como a deste livro, que mudará toda vez que você voltar a lê-lo, talvez só um pouquinho, para que você possa descobrir coisas sempre novas. Porque é assim que os livros são, pequeno Francesco, não precisam do mundo, é o mundo que precisa deles. Lembre as palavras do venerável Borges: todas las cosas del mundo llevan a uma cita o a un libro...

Epílogo do livro Se uma criança, numa manhã de verão... Carta para meu filho sobre o amor pelos livros, de Roberto Cotroneo, trad. de Mário Fondelli, Rio de Janeiro: Rocco, 2004.
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O dia 2 de abril, data de nascimento do escritor dinamarquês Hans Christien Andersen, é pouco comemorado no Brasil - talvez por ser 18 de abril - dia de nascimento de Monteiro Lobato - o Dia Nacional do Livro Infantil - mas não só.
A data me trouxe à lembrança a leitura do livro do crítico italiano Roberto Cotroneo que Lizete descobriu e me emprestou. Apesar de não gostar da capa, a referência no título ao livro de Italo Calvino, já citado aqui no blog, tornou-o simpático para mim. A leitura foi agradável e muito proveitosa.

Cotrôneo, citando também Rainer Maria Rilke, em sua Carta a um jovem poeta, escreve uma carta a seu filho Francesco, na qual, através das referências que faz à leitura de certas obras consagradas, como A ilha do tesouro, de Robert Stevenson, O apanhador no campo de centeio, de J. D. Salinger, ao poema de T. S. Eliot, A terra devastada, e a outras, indica-nos como a literatura pode ser uma forma de aprendizado para a vida, através da experiência de personagens "reais", com quem podemos conviver nas obras de ficção e na poesia.

Você, raro leitor ou leitora, já o leu? Tem algo a contar?

PS: A ilustração acima é a reprodução da capa da obra do italiano C. Collodi, Pinóquio, um dos livros infantis de maior sucesso no mundo, certamente em sua primeira edição integral em português, com tradução de Mary Baxter Lee, editada lindamente pela Francisco Alves e que é uma das raridades do acervo do LIHED/UFF, em breve acessível a pesquisadores na sala 5F da Biblioteca Central do Gragoatá, da Universidade Federal Fluminense – UFF, em Niterói, Rio de Janeiro.

5 comentários:

Anônimo disse...

Algumas das melhores lembranças da minha infância são os livros da senhora Leandro Dupré e sua coleção de histórias do cachorrinho Samba. Livros "gostosos como um bombom" como diria um livreiro aqui da ilha de Santa Catarina...

Giovani Iemini disse...

Adoro literatura infantil. Boa homenagem. É importante ter escritores criando para os menores.
[]s

Aníbal Bragança disse...

Caro Felipe,
creio poder dizer que você se situa numa geração posterior à que leu Lobato (no tempo dele)e à que leu Uma aprendizagem..., no tempo dela. Felizmente são autores que se lêem sempre.
Mas, a Sra. Leandro Dupré tem certamente muito a ver com Lobato. Há uma história muito interessante do início da relação dos dois no prefácio de Lobato no livro dela, Éramos Seis, um grande sucesso, que foi inicialmente publicado pela Nacional, do Lobato.
E, depois, quando a Brasiliense foi fundada, com Caio Prado Júnior, estavam lá como sócios o próprio Lobato e o senhor Leando Dupré, além de Artur Neves.
Tudo isso digo de cor... carece verificação.
Mas do prefácio acima referido retirei esta observação de Lobato sobre a Sr. Dupré (quando ainda não tinha lançado os seus livros do cachorrinho Samba, que tanto sucesso fizeram também):
"...E há uma fluência de água. E há todas as películas de todos os arrozes – o que resulta numa pletora de vitaminas. Em suma, vida, vida e mais vida, porém vida de verdade e não vida empalhada como aquelas aves do museu do Ipiranga..."
Além de recomendar a publicação, o prefácio é muito rico, inclusive sobre o que é leitura (ou algumas leituras) na visão dele. Vale a pena conferir.
Um abração,
Aníbal

Anônimo disse...

Vou atrás deste prefácio, parece interessante! Minha edição de Éramos Seis é mais recente, uma dessas edições populares, impressas em papel jornal, sem prefácio sem nada. Realmente minha geração não leu muito Lobato, apesar de assistir algumas reprises na TV Cultura da antiga série do Sítio. Acho que os best-sellers infantis de minha geração foram Exupery, Ziraldo, Pedro Bandeira, Ruth Rocha, a série Vaga-Lume...

Anônimo disse...

Hoje cheguei no trabalho e tive o prazer de ler o seu texto sobre o Dia Internacional do Livro Infantil e voltei à minha infância lendo alguns livros que me eram dados com tanto carinho pelos meus avós para passar meu tempo e aliviar os meus pensamentos durante meses que tive que ficar presa dentro de casa e deitada numa cama para não gastar energias, sendo tratada por eles com todo o carinho que uma pessoa podia querer ter. Li muitos livros naquela época, mas três autores me vieram na cabeça logo no início da minha leitura: livros da Condessa de Ségur (As meninas exemplares, toda a série de Sofia) Saint Exupéry com O Pequeno Príncipe e O menino do dedo verde, de Maurice Druon. Sem dúvida nenhuma que li muito Monteiro Lobato e muitos outros, mas estes três para mim ficaram no meu subconsciente, acho que porque nunca consegui fazer com que minha filha se interessasse por Condessa de Ségur, apesar de ela ler bastante também.
Obrigada por me colocar logo cedo no meio dos sonhos, sonhos infantis, sonhos da vida.
Um abraço
Anne Marie