quinta-feira, 26 de abril de 2007

Alberto de Oliveira, 150 anos de nascimento

Para lembrar o grande poeta brasileiro nascido no dia 28 de abril de 1857, em Palmital de Saquarema (atual Saquarema)-RJ, e que faleceu em Niterói-RJ há 70 anos (19 de janeiro de 1937), oferecemos a você, rara e raro leitor, alguns de seus poemas.

Única

Estás a ler meu livro, e é bem que exprimas
Certo pesar... Nem uma vez, nem uma
O teu nome estas páginas perfuma!
E outros há por aí por títulos e rimas.

“Quem são essas que vêm de estranhos climas,
De idades mortas, da salgada espuma
Do mar, da Grécia, de teu sonho, em suma,
Que mais que a mim tens celebrado e estimas?”

Dirás. E o livro, se meu ser traslada,
Se o fiz de modo tal que me traduza,
Contas dará de quanto em si contém;

Saberá responder que és sempre amada,
Que nele estás, pois foste a sua musa,
E essas mulheres só de ti provêm.

Lendo os antigos

Vamos reler Teócrito, senhora,
Ou, se lhe apraz, de Teos o citaredo;
Olhe a verdura aqui deste arvoredo
À beira da água... E o sol que desce agora.

Lécio, o pastor, nesta colina mora,
Onde as cabras ordenha. Este silvedo
Guarda de Umbrano à flauta a voz canora,
Como este arbusto a Titiro o segredo.

Esta água... Olhe, porém, como é tão pura
Esta água! O chão de nítidas areias,
Plano, igualado, límpido fulgura;

E tão claro é o cristal que, abrindo o louro
Cabelo, em grupo trêmulas sereias
Se vêem lá em baixo neste fundo de ouro.


A um poeta

Não têm teus versos, agora
Que se foi teu claro dia,
O ímpeto, o fogo, a harmonia
De outrora.

A idéia, porém, mais pura,
A idéia aos poucos nascida
De observar a Dora e a vida,
Fulgura.

Assim, posto o sol, os rios
Não são mais como eram dantes;
Tornam-se, em vez de brilhantes,
Sombrios.

Mas da noite o céu, com os mundos
Acesos, na água a feri-los,
Torna-os mais, sobre tranqüilos,
Profundos...


De Notas de um veranista

7 de fevereiro
O meu último pensamento
Ontem, antes de adormecer,
Não foram nem podiam ser
Os morangos que nos serviu o hotel sempre avarento.

Não foram dessa guerra assombros
Que se contam descomunais;
Eu hoje dou a tudo de ombros,
Pouco me importam paz ou guerra, e não leio jornais.

O meu último pensamento,
Fique bem anotado aqui,
Foi ela, o meu doce tormento:
Vinte vezes disse o seu nome – Élena – e adormeci.

Lira quebrada

Tomando-a onde a deixei dependurada ao vento,
Sinto não ser mais esta a lira de outros dias,
Em que, somente a amor votado o pensamento,
Livre e acaso feliz, a descansar me ouvias.

Quebrada vem. Rouqueja apenas um lamento;
As rosas com que, ó Musa, inda há pouco a vestias,
Fanam-se nos festões, soltam-se em desalento,
Vão-se. Ironia ou dor crispa-lhe as cordas frias.

Mas inda assim lhe escuto um resquício de notas
Perpassar a gemer, corre-lhe as fibras rotas
O fantasma do som que a alma um dia lhe encheu:

Como de um velho sino o bronze espedaçado
Guarda em cada fragmento o fragmento de um brado,
O eco de um hino, a voz de um canto que morreu...

Esta recolha foi feita na seleção feita por Geir Campos no volume que preparou para a série Nossos Clássicos e ainda no livro Lírica, ambos abaixo referidos.

Da crítica, sobre Alberto de Oliveira:

“Houve quem visse nele um clássico. Outros, um romântico. A maioria – historiógrafos da Literatura – cataloga-o parnasiano, uma das três pessoas da famosíssima trindade: Bilac-Alberto-Raimundo.

Na figura do escritor como na obra pode-se encontrar parcelas de tudo isso. O homem era grande e sólido, vestia com apuro, postura e palavra de Mestre que, a partir de 1924, prestigiava o título de Príncipe dos Poetas Brasileiros. Este é, pela busca do belo e preocupação formal, classicizante; pela paixão e entusiasmo, contidos mas presentes, romântico; pela adesão à Idéia Nova, desde a primeira hora, e a plasticidade da obra que realizaria, parnasiano.”

Da apresentação de Xavier Placer em Lírica, de Alberto de Oliveira, seleção de Nilo Aparecida Pinto, Rio de Janeiro: S. José, 1971.

“O que o lia o poeta eram ‘os gongóricos e árcades portugueses dos séculos XVII e XVIII, em que era muito versado’, como depõe Manuel Bandeira (...). Embora na ocasião [das lutas pela causa abolicionista] não arredasse pé da sua chácara em Niterói, naturalmente o poeta tomou conhecimento da vitória republicana – pois foi com a ascensão de José Tomás da Porciúncula à presidência do Estado do Rio que ele se viu nomeado oficial de gabinete e, pouco depois, Diretor da Instrução Pública estadual, cargo que deixou em 1897 (...)

A única luta em que tomou parte Alberto de Oliveira foi a chamada “batalha do Parnaso”, tendo como trincheiras as colunas do Diário do Rio de Janeiro, com escaramuças versificadas contra o pieguismo dos últimos românticos; (...) E é A. de O. que esclarece: - ‘o que houve entre nós foi a reação contra o romantismo dos últimos tempos, descorado e flácido, o restabelecimento das boas normas de escrever versos, um protesto contra o enxovalho da língua, um esforço para mostrar, qual não se via, opulenta e nobre, uma cruzada em prol do bom gosto e em favor da arte’.”

Da apresentação de Geir Campos a Alberto de Oliveira, Poesia. Org. de Geir Campos, coleção Nossos Clássicos, v. 32, Agir, Rio de Janeiro, 1969, 2a. ed.

Um comentário:

Camillo Cavalcanti disse...

Oi Sr. Aníbal,

Eu também aprecio muito a poesia de Alberto de Oliveira. Inclusive, meu Doutorado é sobre ele. Organizei uma antologia a ser lançada na Biblioteca Nacional, 29/11 às 17h.

abraço ao Sr. e à Lizete,

Camillo Cavalcanti