segunda-feira, 21 de abril de 2008

José Bonifácio de Andrada e Silva (Santos, SP, 1763-Niterói, RJ, 1838): pequenos textos

Os fins de qualquer escritor são, ou meramente para ensinar e instruir, ou só para dar gosto e deleitar, ou para ambas estas coisas ao mesmo tempo, o que é melhor. No primeiro caso cumpre clareza e método, no segundo imaginação brilhante, e expressão descritiva e animada, no terceiro clareza e método tal que não enfeie as belezas do estilo, nem dispa a alma de imagens e afetos. Os antigos gregos e latinos devem ser os nossos exemplos. (...)
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Muitos escrevem para matarem o tempo, outros para matarem a fome; uns são forçados pela honra; outros só por caprichos; e a maior parte por vaidade. E eu por quê? Porque si musa, vetat, facit, indignatio versum [“Se a musa proíbe, a indignação faz o verso”, adaptação de frase do poeta latino Juvenal.]
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O meu intento é pôr por escrito os resultados mais gerais e importantes de tudo o que vir e ser.
Cumprirá de manhã ler e ver, e de tarde conversar e perguntar – os pedaços e livros mais interessantes lerei duas vezes, e farei extratos à maneida de Gibbon, e Forster, o filho. Em outro papel escreverei as minhas idéias físicas e morais, ligadas aos fins remotos ou próximos dos meus estudos. (...)
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A liberdade de imprimir é para as ciências como o oxigênio para a vida animal.
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(...) Sempre gostei de passar de um livro a outro diferente, assim como de uma ocupação a outra. (..)
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Ler-me-ão até o fim do mundo, se esta obrinha lá chegar; e estou certo de que há muita boa gente que diz que não. Porém terei a consolação que digam que me ocupei de coisas tão úteis como as de muita outra gente.
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Alguns tacharão de escassa esta minha obra – estes compram o livro, como diz Freire, pelo peso, não pelo feitio. Outros quererão que me valesse do estrépito de vozes novas, a que cham cultura, deisando a estrada limpara por caminhos fragosos; e trocando com estimação pueril o que é melhor, pelo que mais se usa.
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Haverá muita gente que me citará sem me ter lido; e muitos outros sem me terem entendido.
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Quem mais me aborrece neste mundo são os pedantes e orgulhosos, e os grandes sem probidade.
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A maior corrupção se acha onde a maior pobreza está ao lado da maior riqueza.

Considerado o Patriarca da Independência do Brasil, José Bonifácio formou-se na Universidade de Coimbra, onde iria se tornar professor de Mineralogia. Dominou a ciência de sua época, voltou ao Brasil, tornando-se uma figura exemplar de intelectual na passagem de Reino Unido a Império. Deixou-nos uma obra que inclui literatura, política e ciência.

As confissões, reflexões e máximas acima estão no livro Projetos para o Brasil, com textos de sua autoria, organizado por Miriam Dolhnikoff, editado pelo Companhia das Letras, 1998.

Leia mais sobre José Bonifácio:
http://www.senado.gov.br/comunica/historia/bonifacio.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Bonif%C3%A1cio_de_Andrada_e_Silva

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