Hoje (23/6/2007), no caderno Idéias & Livros, p. 7, o Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, traz a crítica de Wilson Martins, “A roda da fortuna”, com uma sugestiva ilustração de João Lampreia, em que é registrado o lançamento do livro Na contramão dos preconceitos estéticos da era dos extremos, de Israel Pedrosa, recentemente editado por Léo Christiano http://www.leochristiano.com.br/ .
O crítico, autor de uma das melhores obras de história do livro, da imprensa e da biblioteca publicadas em português, A palavra escrita, editada inicialmente pela Anhembi, em 1957, e após longo tempo fora das livrarias, reeditada, revista e atualizada, pela Editora Ática (com apoio da Fundação Biblioteca Nacional), e da História da inteligência brasileira, obra monumental em 7 volumes, Editora Cultrix (1976-1979), destaca em seu texto o que chama de “capítulo reivindicativo” de Israel Pedrosa, “A latência poética de Geir Campos (1924-1999)” (p. 117-177), para afirmar que o poeta “consagrado em vida pela crítica” está hoje “condenado ao silêncio”, com o “mesmo destino” do poeta Ribeiro Couto; segundo ele, Geir “por ser visto como esquerdista” e Couto “por ser visto como direitista”. Para Wilson Martins, a “roda da fortuna” segue “os critérios de julgamento na feira literária, nos quais a intenção polêmica, quando não caluniosa, toma o lugar dos vereditos objetivos e desinteressados.”
O belo ensaio de Israel Pedrosa continua o resgate da obra do poeta capixaba iniciada com a organização da Antologia Poética de Geir Campos (2003), editada também pela Léo Christiano, aprofundando e alargando a trilha aberta pelo livro A profissão do poeta & Carta ao livreiros do Brasil, lançado no ano anterior, organizado por Maria Lizete dos Santos e este neoblogueiro.
Sobre o tema da "roda da fortuna", um poema (do livro Metanáutica, in Antologia poética de Geir Campos, p. 261):
Questões de tempo
Quem perguntará por mim
quando a última passar
com seu facão?
Que mulher grave desfalecerá
vendo apagados meus olhos
na multidão?
Que homem de bem guardará
o adeus meu
seco na palma da mão?
Quem lembrará minha voz
coral ausente
em qualquer canção?
Quem se pagará a herança
inteira ou em pedaços
do meu indivisível coração?
E a quem a flor
de raiz em mim
fará os acenos do não?
Conheça mais de e sobre Geir Campos (e também de outros poetas) no excelente espaço virtual, criado por Luiz Fernando Proa, "Alma de Poeta":
http://www.almadepoeta.com/biblioteca/geircampos.htm
E nos diga, rara ou raro leitor, se se inclui, como Israel Pedrosa e nós, entre aqueles que perguntam por Geir e sua herança poética.
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3 comentários:
Caro Aníbal
Agradeço muito pela visita em meu blog. É verdade temos semelhanças em nossas trajetórias. Conheci você há muito tempo e foi em sua livraria de Icaraí que fui apresentado por Floriano e José Maria, da Distribuidora Século XXI, estava em companhia deles ao visitarem a livraria. Elogiávamos o seu trabalho pioneiro no incentivo da cultura e de oferecimento de serviços ao público leitor. Você era referência para muitos livreiros na década de 70/80. Creio que na ocasião você estava abrindo em uma das partes da livraria, um bar. A Século XXI era uma distribuidora portuguesa, com um perfil de esquerda, fui seu divulgador para editoras nacionais na área universitária.
Conheci seu irmão quando fui pracista da Editora Paz e Terra, e responsável por remover obstáculos da editora com a praça de Niterói, também fui no final dos anos 70, divulgador da Paz e Terra e Edições Graal. Trabalhei por muito tempo com livros e encerrei minhas atividades como distribuidor e atualmente me encontro afastado do mercado, enquanto desempregado, resolvi juntar os cacos da memória para desenvolver algo que retratasse minha experiência com livros, seja da forma como profissional do livro, ou como leitor, daí o surgimento do blog. Resolvi mais recentemente levar à tona, estes temas. Por minha formação de sociólogo sempre foi de meu interesse abordar a história do livro, as publicações/edições de ciências sociais no Rio de Janeiro. O resultado está circunscrito a lembranças que tenho exposto no blog. Não tenho publicado nenhum artigo. Meu trabalho tem sido solitário.
Tenho lido artigos esparsos sobre mercado editorial, lendo aos poucos, textos do primeiro seminário sobre o tema e pretendo ler o seu livro editado pela UFF, pois, eu gostaria de examinar como você abordou a história de uma livraria. Acabei de visitar o seu blog e realmente é de extrema valia para pesquisadores do universo do livro, você está de parabéns, é muito bom, uma via importante para aproximação de interessados no tema.
Aníbal foi muito bom este contato, um prazer enorme e fico ao seu dispor. Um grande abraço.
Agradeço a descoberta de vocês. Meu ingresso para perguntar Geir Campos é a memória longa que indaga: "Comer do fruto amargo e não cuspir; mas dizer a todos o quanto é amargo" (creio). De que poema de Geir é este trecho que me guiou por muitos anos escuros? E a tradução de Geir para "Aos que vão nascer" de Brecht? Onde encontro? Reverências. Eduardo Ulup.
Olá Eduardo,
O poema do Geir a que se refere é "Tarefa" e foi publicado a primeira vez no livro Canto Claro, editado pela José Olympio em 1957. Recentemente ele aparece na Antologia Poética (quase a obra poética completa), organizada por Israel Pedrosa e lançada em 2003 pelo Leo Christiano Editorial www.leochristiano.com.br .
Ele está também entre os poemas selecionados do livro que organizamos A profissão do poeta & Carta aos livreiros do Brasil, de 2002 (já registrado neste blog).
A tradução que Geir fez do poema "Aos que vão nascer", de Bertolt Brecht, está em Poemas e canções de Bertolt Brecht, editado pela Civilização Brasileira, 1966, mas é provável que esteja também numa antologia de Poesia Alemã organizada por Geir e que me parece foi reeditada pela Edições de Ouro (Tecnoprint). De todo modo certamente você a encontrará num desses livros em bibliotecas ou nos sebos. Tente wwww.estantevirtual.com.br .
Bom proveito do grande Geir, que inspirou a muitos de nós.
Abraços,
Aníbal Bragança
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