Achado – para o literato, uma idéia brilhante e incomum.
Adeus – o prefácio de um livro chamado saudade.
Beletrista – um intelectual de fraque, cartola e bengala.
Biblioteca – um repositório de cultura, muito apreciado por intelectuais, traças e cupins.
Capitular – render-se aos poucos, isto é, por capítulos.
Coloquial – a fala mais afinada com a voz do povo.
Comentário – o blá-blá-blá refinado.
Exceção – a filha enjeitada da regra.
Exegese – a arte de decifrar as ambigüidades dos textos.
Gramática – conjunto de regras em cujas exceções procuramos enquadrar os nossos erros.
Hermética – na poesia, a idéia que se tem de descobrir ou adivinhar.
Hermeneuta – o especialista em escarafunchar os buracos das leis.
Lápide – a última pedra dos nossos caminhos.
Lápis – a caneta das primeiras letras.
Leitor – você.
Livreiro – o comerciante que vende o que não tem preço: o saber.
Metáfora – dizer uma mesma coisa usando palavras que significam outra.
Mímica – a fala que não sai da boca.
Monologar – conversar consigo mesmo ou com uma platéia muda.
Monotonia – o canto da goteira.
Neologismo – a reciclagem da língua.
Neto – o filho em reedição atualizada e melhorada.
Novela – o novelo que leva meses para ser desenrolado.
Opinião – a verdade de cada um.
Palavra – o cativeiro do escritor.
Palco – lugar onde a vida vira peça de teatro.
Parênteses – os biombos das palavras.
Pesquisa – o plágio amplificado e institucionalizado.
Poeta – o pastor dos sonhos próprios e alheios.
Polígrafo – o escritor que joga nas onze.
Posteridade – o futuro do futuro.
Póstuma – a obra que cheira a formol.
Prefácio – a apresentação de um trabalho, feita por um amigo do autor.
Prolixo – quem se deixa atropelar por suas próprias palavras.
Reticências – uma forma de os tímidos, os indecisos e os maliciosos se expressarem.
Sábio – quem sabe que nunca sabe o bastante para não precisar saber mais.
Sapiência – o sabor do saber.
Sebo – livraria onde o livro, quanto mais velho for, mais novidade será.
Sofisma – uma construção bonita assentada em areia movediça.
Trova – a foto 3 x 4 da poesia.
Ze – a letra que fecha o trabalho dos dicionaristas.
Estas são algumas das definições pinçadas do Minidicionário anticonvencional, de Sandro Pereira Rebel, editado pela Nitpress, em 2006 http://nitpress.tripod.com . Sobre a obra, de 150 p., em formato 18 x 12 cm., afirma Luís Antônio Pimentel, na orelha do livro: “Não se trata, como diz o povão, de um livro para ‘ensinar padre-nosso ao vigário’. Muito pelo contrário: trata de definir, explicar, por formas as mais variadas, o significado oculto, malicioso e até mesmo humorístico de certos vocábulos”. O próprio autor, na apresentação, é cuidadoso sobre a originalidade de suas definições: “pensamos que pensamos, mas, na verdade, não pensamos, e sim, isto sim, apenas pensamos e repensamos pensamentos muitas vezes já pensados e repensados por outros. Essa ressalva cabe também, e sob medida, em relação a tudo de que se compõe este livro”. Que, rara leitora ou leitor, como se pode ver pela breve amostra acima, é inteligente e se lê com prazer, com muitas paradas para refletir, outras tantas para sorrir.
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