domingo, 8 de julho de 2007

Sobre direitos autorais e a xerox, de McLuhan

O “direito de autor” – como o conhecemos hoje, [e] o esforço intelectual individual ligado ao livro como um produto econômico – eram praticamente desconhecidos antes do advento da tecnologia da imprensa.

Os estudiosos medievais eram indiferentes quanto à identidade precisa dos “livros” que estudavam. Em compensação, raramente assinavam mesmo aquilo que era claramente seu. Eles eram uma humilde organização de serviço. A busca de textos era, com freqüência, uma tarefa muito aborrecida e demorada.

Muitos textos curtos eram transmitidos em volumes de conteúdo variado, como as anotações que se fazem num livro de recortes, e, nesse processo de transmissão, a autoria freqüentemente se perdia.

A invenção da imprensa eliminou o anonimato, fomentando idéias de fama literária e o hábito de considerar o esforço intelectual como propriedade privada.

A multiplicação mecânica do mesmo texto criou um público – o público leitor.

A cultura emergente, orientada para o consumo, tornou-se preocupada com os rótulos de autenticidade e proteção contra o roubo e a pirataria.

A idéia de “copyright”, direito de reprodução – “o direito exclusivo de reproduzir, publicar e vender o conteúdo e a forma de um trabalho artístico ou literário” – nascia então.

A xerografia – o caça-mente de qualquer um – é o arauto dos tempos de publicação instantânea. Qualquer pessoa hoje pode tornar-se autor e editor.

Procure quaisquer livros de quaisquer matérias e faça seu livro, sob medida. Basta fazer um xerox do capítulo de um, um capítulo de outro – furto instantâneo!

À medida que novas tecnologias entram em uso, as pessoas ficam cada vez menos convencidas da importância da auto-expressão. O esforço de grupo substitui o esforço individual.

Um duplicador, artifício duplicador
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Um duplicador, artifício duplicador
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Um duplicador, artifício duplicador
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Trazemos este texto do canadense Herbert Marshall McLuhan, considerado por uns o “profeta” da Comunicação, por outros um charlatão, por outros, ainda, um agudíssimo observador das transformações da sociedade moderna, em trânsito para a pós-modernidade, o que ele relacionou com a criação das “novas tecnologias” (caso deste neoblogueiro), para que você, rara ou raro leitor, conheça um dos registros provocadores que fez sobre o tema dos direitos autorais, já nos anos 1960, antes da Internet, mas já prevenindo o que a tecnologia da Xerox iria trazer de novas possibilidades (e de vícios) para os leitores e de riscos aos interesses econômicos de editores e autores.

O texto é do belo e instigante livro de McLuhan, feito em parceria com Quentin Fiore, O meio são as massa-gens (p. 150-1), ora esgotado, mas encontrável nos sebos (consulte, p.ex.,
www.estantevirtual.com.br), traduzido por Ivan Pedro de Martins, que também fez o prefácio, e editado entre nós pela Record, na década de 1970 (sem data de publicação no livro).

Que seria de nossos alunos universitários, sem a xerox, com os baixíssimos investimentos feitos pelos diferentes e sucessivos governos nas bibliotecas universitárias?

Que seria dos governos se não existisse a xerox para saciar nos alunos a (já diminuta) vontade de leitura de textos impressos, e eles então pressionariam por mais verbas, sempre tão magras, para equipar e atualizar as bibliotecas?

A tecnologia da xerox é um mal menor? Ou maior? Tudo é complexo e você, rara ou raro leitor, poderá fazer seu comentário sobre o tema, mais candente hoje que quando o canadense escreveu sobre ele. Ou não?

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