quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Arte poética, de Pedro Oscar Godínez, ou o verbo se fez carne

si mi poesía no sirve
nada valgo yo
si mis poemas no logran dar en el blanco/ de outra vida
en el tiro de mi existencia está el error
de cuarenta años
si mis versos no funcionam
es sin dudas mi mecanismo/ el que anda mal
mi poesía y yo somos consubstanciales

yo es ella
o lo que es lo mismo/ ella es yo

así que forzosamente habrá de hacerse lugar bajo el vasto azul
o dejarme libre el camino hacia el no-ser
por eso
antes de cerrarle la puerta a este poema
afina bien la receptora mirada
si fallaras en tu voto secreto/ entre un sí lisonjero
y un no inquisitivo

piensa que estarías condenando al retrete
algo más que una simples hoja de papel

la vida entera de un hombre

todo su amor.

8 de marzo de 1988

In Letras Cubanas, 16, oct.-dic./1990, Habana, Cuba, p. 54-55.


Creio que não terei lido um texto que mais explicitamente expresse a encarnação da letra no corpo, de que fala Michel de Certeau, no seu A invenção do cotidiano, 1994, Editora Vozes, mais especificamente em seu capítulo X: "A economia escriturística", do qual recolho meio aleatoriamente esta citação:

"O texto impresso remete a tudo aquilo que se imprime sobre o nosso corpo, marca-o (com ferro em brasa) com o Nome e com a Lei, altera-o enfim com um chamado, um nomeado. A cena livresca representa a experiência, tanto social como amorosa, de ser o escrito daquilo que não se pode identificar: 'Meu corpo será apenas o texto que tu escreves sobre ele, significante indecifrável para qualquer outro que não tu. Mas o que és tu, Lei, que mudas o corpo em teu sinal?' O sofrimento de ser escrito pela lei do grupo vem estranhamente acompanhado por um prazer, o de ser reconhecido (mas não se sabe por quem), de se tornar uma palavra identificável e legível numa língua social, de ser mudado em fragmento de um texto anônimo, de ser inscrito numa simbólica sem dono e sem autor."

Este é um breve registro em homenagem ao povo cubano e sua literatura. E a minha querida amiga SB, que, ao regressar de lá, me regalou com um exemplar dessa revista da “nova literatura” do país que já encantou a minha geração.

Que diz deste poema, rara leitora, em que “o verbo se fez carne” ou “o corpo se fez texto”?

2 comentários:

Moacy Cirne disse...

Salve, salve! O blogue do Henrique Chaudon trouxe-me até aqui. Que surpresa, meu caro: vou espiar com calma suas postagens. Voltarei. Voltarei. Um abraço.

Beatriz Vieira disse...

olá
Gostei muito desse blog.. Já linkei.
Convido a visitar:
http://cartasaoavesso.blogspot.com