sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Richard Romancini e as mudanças na Livraria do Globo


Fotos de Richard Romancini, 2008

Caro Aníbal,

Como lhe disse, estive em Porto Alegre, agora em julho, participando de um concurso na UFRGS. (...) Mas, menos do que contar isto (que acho que já havia mencionado na Intercom), queria lhe mandar fotos da Livraria do Globo, pois sei de seu interesse na memória editorial brasileira.

Um sábado, passeando no centro de Porto Alegre, vi que a Globo "da Rua da Praia" (na verdade, oficialmente, a Rua dos Andradas) agora é ocupada por uma loja de sapatos (quando será que isso aconteceu?), como você poderá ver na foto em anexo. Fiquei até triste, mas pelo menos (notei depois) na rua paralela ela ainda está aberta como livraria mesmo (o nome dessa rua é José Montaury), como você vê na outra foto. Enfim, o dano não foi total, embora certamente por razões sentimentais seria melhor que fosse o contrário.

Por outro lado, pelo que andei na cidade, me parece que Porto Alegre deve ser o município com o maior número de livrarias por habitante do país.

Bom, só escrevo para lhe contar isso e aproveito para mandar um abraço,

Richard
*
Caro Richard

A Globo (antes de a editora de que era parte ser comprada pelo grupo Roberto Marinho) foi uma das livrarias e editoras mais importantes do país, como todos sabemos, inclusive porque foi tema de vários livros que andam disponíveis nas livrarias e acessíveis nas bibliotecas: Editora Globo, uma aventura editorial nos 30 e 40, de Elizaberth Rochadei Torresini, Em busca de um tempo perdido, edição de literatura traduzida pela Editora Globo (1930-1950), de Sônia Maria de Amorim, ambos editados pela Com-Arte, da ECA/USP, em co-edição com a Edusp e a Editora Universitária (UFRGS), A Globo da Rua da Praia, de José Otávio Bertaso, com apresentação de Luís Fernando Veríssimo, e Um certo Henrique Bertaso, de Érico Veríssimo, editados pela Globo (este último antes da referida venda). Acrescento um volume menos conhecido e o primeiro a ser publicado sobre o cotidiano na Globo: Balcão de livraria, de Herbert Caro, tradutor de A morte de Virgílio, de Hermann Broch, e de outros grandes romances alemães, que era o responsável na livraria pela seção de obras estrangeiras, publicado pelo Serviço de Documentação do MEC, em 1960, em coleção dirigida por José Simeão Leal, de grata memória em nossa história editorial.

Hoje a Globo, ao que parece, apesar de toda sua tradição, sofre as vicissitudes das livrarias “de rua”, em combate desigual com as livrarias “de shopping” (muito bem apresentadas por Jason Epstein, para o caso americano, em O negócio dos livros, editado aqui pela Record).

Aproveitemos este espaço para lançar ao nosso raro leitor algumas perguntas: quando foi que a Globo abriu mão de sua frente para a antiga Rua da Praia? Ela pertence ainda a algum descendente dos Bertaso, que elevaram ao topo a empresa? ou, mais improvável, de Laudelino Pinheiro de Barcellos e Saturnino Alves Pinto, seus fundadores em 1883?

Ficamos, Richard, à espera do que nos possa informar algum destinatário desta mensagem lançada - não ao mar - mas ao éter. Quem sabe a nossa amiga Elizabeth Torresini, certamente quem mais conhece hoje da história da Globo?

Saiba mais, acesse:
www.livrariadoglobo.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=13&Itemid=29

2 comentários:

Henrique Chaudon disse...

Caro Aníbal:
No final dos '70, quando estava morando próximo a POA, costumava gastar uma ou duas tardes perambulando pelo Centro. Descobri, entre outras coisas, a Discoteca Pública(!) Nato Henn ( não tenho certeza da grafia); na Livraria do Globo comprei alguns livros, entre eles um Curso de Botânica , Prof. Alarich Schulz, adotado no Ensino Médio gaúcho, em excelente papel couché, 2 vol., encadernado, edição dos anos '60. Uma bagatela. Já não estão comigo, infelizmente.
Mas o que desejo ressaltar, neste comentário que já se alonga,é a obstinada busca dos gaúchos por liberdade, independência, autonomia ( ao menos, historicamente). Os Farrapos, entre outras exigências para uma paz honrada, firmaram pé na autonomia do Ensino. Estávamos em 1845...
Grande e fraterno abraço.

Aníbal Bragança disse...

Caro Richard,
recebi retorno gentil de Elizabeth Torresini que informou, sobre a Globo:
"Ela continua nas mãos da família Bertaso. Produz impressos para escritório e mantém uma papelaria muito boa. Os livros, no presente, servem somente de adorno a tudo isso."
Abraço,
Aníbal