domingo, 28 de setembro de 2008

100 anos sem Machado de Assis (21/6/1839 – 29/9/1908)

Ao leitor

Que Stendhal confessasse haver escripto um de seus livros para cem leitores, cousa é que admira e consterna. O que não admira, nem provavelmente consternará é se este outro livro não tiver os cem leitores de Stendhal, nem cincoenta, nem vinte, e quando muito, dez. Dez? Talvez cinco. Trata-se, na verdade, de uma obra diffusa, na qual eu, Braz Cubas, se adoptei a fórma livre de um Sterne, ou de um Xavier de Maistre, não sei se lhe metti algumas rabugens de pessimismo. Póde ser. Obra de finado. Escrevi-a com a penna da galhofa e a tinta da melancholia, e não é difficil antever o que poderá sair d’esse connubio. Accresce que a gente grave achará no livro umas apparencias de puro romance, ao passo que a gente frívola não achará n’elle o seu romance usual; eil-o ahi fica privado da estima dos graves e do amor dos frívolos, que são as duas columnas máximas da opinião.

Mas eu ainda espero angariar as sympathias da opinião, e o primeiro remedio é fugir a um prologo explicito e longo. O melhor prologo é o que contém menos cousas, ou o que as diz de um geito obscuro e truncado. Conseguintemente, evito contar o processo extraordinario que empreguei na composição d’estas Memorias, trabalhadas cá no outro mundo. Seria curioso, mas nimiamente extenso, e aliás desnecessario ao entendimento da obra. A obra em si mesma é tudo: se te agradar, fino leitor, pago-me da tarefa; se te não agradar, pago-te com um piparote, e adeus.

Braz Cubas.

Página introdutória do livro de Machado de Assim, Memórias póstumas de Brás Cubas, transcrita da edição da Garnier, de 1924, mantida a grafia original. Pretende ser um singelo registro, rara leitora, neste espaço, no meio das muitas e merecidas comemorações do centenário de morte de Machado de Assis, nosso maior romancista.

Quem sabe vale agora reler essas memórias, acrescentando mais algumas unidades aos 5 leitores previstos pelo memorialista?

Fui vivamente estimulado a fazer isso ao receber os volumes comemorativos de três das mais importantes obras de Joaquim Maria, Dom Casmurro, Quincas Borba e o Memórias póstumas de Brás Cubas, publicados pela Editora Globo e a Globo Universidade. Belíssimas e sóbrias edições, envoltas em primorosa caixa, com fotos de época do Rio de Janeiro, por Marc Ferrez e Georges Leuzinger (do acervo do Instituto Moreira Salles), que também ilustram as capas magníficas de João Baptista da Costa Aguiar.

Além dos trabalhos de fixação de texto e notas, respectivamente, de Manoel Mourivaldo Santiago Almeida, Eugênio Vinci de Moraes e Marcelo Módolo, os volumes têm prefácios de profundos conhecedores da obra do Bruxo do Cosme Velho. Dom Casmurro, contém prefácio de John Gledson, Quincas Borba, de Willi Bolie, e Memórias póstumas de Brás Cubas, de Abel Barros Baptista, autor do magistral Autobibliografias, Solicitação do Livro na Ficção de Machado de Assis, edição da Relógio d’Água, em Portugal, e da Editora da Unicamp, no Brasil.

Enfim, uma contribuição maravilhosa da Globo Universidade e da Editora Globo às homenagens a Machado de Assis. Seus leitores agradecem.

Saiba mais:
http://www.machadodeassis.org.br/

http://www.globolivros.com.br

Um comentário:

Beatriz Vieira disse...

Apesar de estar fadigada de ver tantas coisas só falando de Machado de Assis, fico feliz de saber que nossas ´publicações voltam os olhos para um escritor.
É raro de acontecer isso no Brasil

Saudações
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