terça-feira, 9 de setembro de 2008

Intercom, Natal e Vicente Serejo

Ao retornar, rara leitora, a este espaço, trago as lembranças das pessoas queridas que revi no 15° encontro do grupo de pesquisadores de produção editorial, livro e leitura reunido na Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação – Intercom, que fez realizar, em conjunto com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte e outras instituições, o seu XXXI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, na capital potiguar, entre 2 e 6 do corrente.

Afora as vivências e trocas acadêmicas que sempre nos enriquecem nesses encontros, foi muito bom estar com amigos que partilham afinidades e sonhos, o que dá mais sentido à vida, perene e precária.

Trago da bela cidade de Natal, que não pude ainda conhecer como queria, a alma em festa pela lembrança do reencontro com os amigos Rejane e Vicente Serejo, anfitriões gentis e generosos.

Além da afinidade no amor aos livros, admiramos a faceta de contador de causos de Serejo, o seu conhecimento profundo da cultura potiguar e brasileira, a visão crítica que tem da vida acadêmica, a discreta elegância e a inteligência refinada de Rejane. Além de tudo, encanta-nos no jornalista de O Jornal de Hoje a sua capacidade de transformar paisagens e experiências em ricos textos tecidos cotidianamente em suas crônicas.

Seu livro Canção da noite lilás, em bela edição da Lidador, do Rio de Janeiro, editado, em 2000, com capa de Nei Leandro de Castro, ilustrações de Mem de Sá, coordenação editorial de Márcia Carrilho, traz prefácio de Silviano Santiago, “Compartilhar o pão da palavra”, no qual afirma o consagrado crítico mineiro: “raramente a língua portuguesa buscou se igualar com tanta maestria à palheta de um pintor (...) A palheta da língua declamada pelas palavras de Vicente Serejo como que conduz os olhos do leitor para o mirante onde surpreendem e apreciam as misteriosas e secretas cores das duas naturezas. A natureza que ambienta dias e noites, que varre espaços com ventos e marés, que recorta acidentes geográficos e se deixa recortar pelas construções do homem, natureza que é finalmente dádiva verde e multicolorida de árvores, flores e frutos. E também a natureza dos corpos vivos (homem ou animal), seu estar no mundo e seu locomover pelas arestas do dia-a-dia, seu silêncio e sua fala, nosso diálogo, seu desaparecer pelas lâminas afiadas da morte, seus temores e amores, seus segredos e covardias, sua solidão e fugas pelos galopes da memória e os delírios do desejo”. Leitura prazerosa. Viagem imaginária que fez parecer mais rápida a volta e até esquecer dos desconfortos do avião.

Foi muito bom, Vicente e Rejane, poder rever, guiado por fraterna amizade, a biblioteca cultivada e culta onde fulguram as coleções mais completas das obras de Mário de Andrade e de Luís da Câmara Cascudo, paixões de pesquisadores e de bibliófilos. E, finalmente, compartilhar do tinto lusitano de boa cepa em belas taças na mesa da varanda, onde folheei, encantado, o exemplar da Iconografia Potiguar, em cuidada edição do SEBRAE-RN, que agora se abriga na biblioteca da nossa casa como lugar de memória de dias encantados.

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