domingo, 14 de setembro de 2008

Poemas-vida, de Goldberg, por Marília Librandi Rocha, no IV SETHIL

Imagens

Para cima não existem bosques,
Nem para baixo, rios caudalosos.
Assim, pergunta-se,
como escrever com a
mão esquerda, sobre delicados
prados, ou luas visionárias.


Poeta

Rude o albergue de mentiras,
abriga a raiva e a tonteria.
Em escaninhos da memória
trai e mente, entre vogais e
pergaminhos.


Mudança

Dest/arte,
o aedo transforma
a vigília
em aurora.


O tecedor

Quais mascates
– ao fim da feira –
procuram-se palavras –
e – talvez –
sentimentos.

Quem sabe – Eu sou
filho de Marte e
Saturno, estrela
cadente em alto
mar, quem sabe,
procurando dervixes,
que só se encontram
em areias no deserto,
quais mascates –
na pré-feira


Pretexto (ou álibi)

Escrevo para não escrachar,
ou por escrever o ato da soltura,
quem sabe uma escrita gongórica,
que se goza em si mesma,
em escrever gago ou mudo que
se engana de endereço,
uma palavra retilínea de
curvas intenções.
A caneta apócrifa que verseja
mentiras enfeitiçadas,
uma escrita surda de gemidos
audi-sonantes,
enterro autocrático em que,
rebelde, me achego de larvas
encarecidas.


Do ensaio de Marília Librandi Rocha, introdutório à antologia Poemas-vida, de Jacob Pinheiro Goldberg, por ela organizada, editada pela 7Letras http://www.7letras.com.br/ , Rio, 2008, retiramos, rara leitora, seu começo:

Espécie de errância interior, trajetória de vida contada e recontada em muitos poemas e textos, a poesia de Jacob Pinheiro Goldberg pode ser descrita como a de uma vida singular tornada estranhos poemas ou poemas-vida [cf. Michel Foucault].

Começando a escrever em início dos anos de 1950, mas firmando uma escrita poética mais efetiva a partir de final dos anos 60, a poesia de Goldberg defende e pratica procedimentos da arte de vanguarda do início do século XX – desde composições futuristas sobre a palavra em liberdade, a livre associação surrealista, a conjunção arte-vida, a utopia de uma arte livre de regras em revolução permanente e a de uma sociedade livre de autoritarismos, até as manifestações da poesia beatnik e da contra-cultura norte-americana dos anos 60/70, num misto de influências que vão se unir, em Goldberg, à sua prática e formação de terapeuta. (...)

Aproveito este registro, também, para assinalar minha satisfação de estar participando do IV Seminário de Teoria e História Literária (IV SETHIL), sob a temática História do Livro e da Leitura, em Vitória da Conquista (Bahia), promovido pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB (Área de Teoria e Literatura do Departamento de Estudos Lingüísticos e Literários), desde o dia 13 (vai até 16).

O IV SETHIL www.sethil.com.br/ivsethil tem a coordenação de Marília Librandi Rocha, Marcello Moreira, Lúcia Ricotta, com a colaboração de outros professores e alunos da UESB. Nele também está sendo lançado o nº 4, ano II, de Floema – Caderno de Teoria e História Literária, dedicado a Sá de Miranda, organizado pela professora Marcia Arruda Franco (USP).

Um belo evento realizado em Vitória da Conquista, cidade baiana do interior, terra de três grandes artistas brasileiros: Glauber Rocha, Elomar Figueira Mello e Gilberto Gil, com várias boas livrarias. Bom sinal.

Um comentário:

Vanessa disse...

Que belo trabalho! Estou me apaixonando pelas palavras de Jacob Goldberg.

Vanessa Leite Barreto Quintino
Montes Claros/MG
vanessalbarreto26@yahoo.com.br