quarta-feira, 18 de junho de 2008

Hoje, 100 anos do início da imigração japonesa no Brasil

Marcelo, filho de Celina Fróes Bragança e Marco Aurélio Fuchida

Cume do Fuji

Escalando o Fuji,
sentindo as nuvens
como um rebanho de neve aos meus pés
e sobre a cabeça a Lua cheia,
brilhante como o Sol,
é impossível que o céu não esteja mais perto.
Essa beleza toda deve ser o céu.


O Fuji dentro da tarde

Na tarde sonolenta,
o Fuji-san se erguia,
por entre o quimono macio das nuvens,
impávido como um seio virgem,
para receber os últimos beijos ardentes
do sol que morria...
Japão – Verão de 1940


Fios telegráficos

Kumamoto exibe orgulhosa,
o tapete de ouro dos seus campos de arroz.
Da janela do trem,
que corre resfolegando,
vejo a paisagem luxuriante
que põe a pauta dos fios telegráficos
diante dos nossos olhos,
pedindo um poema.
Japão, Kumamoto, 21 de outubro de 1939

Haicais

O vento levanta
a névoa fina do vale,
despertando a aurora.

O campo é um mar.
Nos trigais em ondas de ouro,
mergulham pardais.

Morre lento o sol.
Nas grandes sombras deitadas,
um pranto de folhas.

Na mesa do céu,
a lua, taça tombada,
derrama luar!

Cânon do haicai:
Numa flor de cerejeira,
a alma do Nipon.

Molhando o pincel
em lágrimas de saudade,
escrevo um haicai.

Que é um haicai?
É o cintilar das estrelas
num pingo de orvalho.

Poemas do livro de Luís Antônio Pimentel, Contos do Velho Nipon – 12 dias com Leviana – Tankas e Haicais (Prosa e Poesia Reunidas). Obras Reunidas, v. 2, org. de Aníbal Bragança. Niterói: Niterói Livros, 2004.


Logo cedo fui tocado pela fraterna mensagem recebida de Nicia Tanaka, acompanhada de um conjunto de belas imagens de bonsai ilustrando um canto à amizade. Nela, a professora sansei, de Niterói, fala de seus avós imigrantes que “escolheram esta terra para viver”, das dificuldades que passaram e, muito grata, refere à bela herança que recebeu deles e dos pais: família e educação.

Sinto hoje de forma especial a presença de Satie Mizubuti e Kayoko Nakamura, amigas que semearam a delicadeza nipônica em meu coração, para sempre. Lembro de Sonia e Masato Ninomiya, nipobrasileiros de escol, sensíveis, atentos, generosos...

Lembro, com a alma alegre, do sorriso de meu neto Marcelo com seus olhinhos orientais...

E acrescento às homenagens prestadas por todo o país a esses bravos imigrantes e seus descendentes que enriqueceram e enriquecem a cultura brasileira, em todas as dimensões, a sensibilidade da poesia de Luís Antônio Pimentel, um fluminense apaixonado pela cultura tradicional japonesa, o primeiro estudante brasileiro que estudou na Terra do Sol Nascente com bolsa do governo japonês, onde viveu parte de sua juventude (1937-1942) e que lá teve publicado, bilíngüe, o primeiro livro de poeta brasileiro, Namida no Kito, editado em Tóquio em 1940, ao mesmo tempo que lançava aqui, no mesmo ano, pela antiga editora Pongetti, do Rio de Janeiro, o livro Contos do Velho Nipon, que este ano será lançado, em 3a. edição, pela NitPress, de Niterói.

Luís Antônio Pimentel recebe hoje, simbolicamente, no Palácio do Planalto, em solenidade presidida por Luís Inácio Lula da Silva e com a presença do príncipe-herdeiro do trono japonês, Naruhito, a medalha do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil, que lhe foi conferida em “reconhecimento pela contribuição prestada para a inserção da comunidade japonesa no Brasil e da comunidade brasileira no Japão”.

Viva Pimentel! Viva o Brasil! Viva o Japão!

2 comentários:

Anônimo disse...

Que bonita homenagem! Parabéns.

Partilho com você a alegria e orgulho de fazer parte deste povo e, mais ainda desta familia, que se constroi e se enriquece a cada dia incorporando traços e heranças de tantas e tão diferentes e belas culturas.

E acrescento, viva o Marcelinho, o mais novo brasileirinho da familia.

Herminia

Anônimo disse...

Quanta alegria em ver este sorriso brilhando no blog, como faz em nossas vidas há exatos oito meses e três dias...
E, mais ainda, quanta alegria em ver reforçada esta noção tão brasileira de uma identidade múltipla, sintetizadora, que não apenas abriga, mas também "concebe etnias"...
Parabéns aos japoneses, que com tanta riqueza aqui chegaram e ficaram, e também aos portugueses (e outros povos) que nos presentearam com este patchwork de brasilidades...
Um abraço longo e-terno, de nossa orgulhosa comunidade familiar nipo-portu-brasileira...