quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Os autores e as suas obras, segundo Schopenhauer (1788-1860)

As obras são a quintessência de um espírito; daí elas serem incomparavelmente mais ricas que o contato pessoal, mesmo quando se trata de um grande espírito, as obras acabam por substituí-lo na essência - e, inclusive, o superam largamente e o deixam para trás. Mesmo os escritos de um espírito medíocre podem ser instrutivos, dignos de leitura e agradáveis, precisamente porque são sua quintessência, o resultado, o fruto de todos os seus pensamentos e estudos; - enquanto a convivência com ele não consegue nos satisfazer. Daí que possamos ler livros de pessoas cuja convivência não nos agradaria e, assim, uma alta cultura espiritual nos leva pouco a pouco a encontrar entretenimento quase exclusivamente com livros e não mais com as pessoas.

In Schopenhauer, Arthur. Sobre livros e leitura / Über lesen und bücher. Trad. de Philippe Humblé e Walter Carlos Costa. Porto Alegre (RS): Paraula, 1993.

Creio que todos os que já publicaram livros compreendem bem o que afirma o filósofo alemão. Na preparação de uma obra busca-se sempre excluir o que é secundário ou imperfeito, em uma luta para alcançar o melhor. Nesse sentido, a obra será sempre superior ao autor, porque ela reflete o melhor que ele tem a oferecer naquele momento. Já a vida não dá pra recortar. Mas não chegaríamos por isso à mesma conclusão de Schopenchauer. Esta a proposta de reflexão ou discussão que lhe propomos, rara leitora. Participe. 

3 comentários:

Carla Martins disse...

Que legal...adorei a reflexão! :)

bom final de semana!

Henrique Chaudon disse...

Amigo Aníbal:
Creio que Schopenhauer se referia a livros de ensaio, ou seja: livros aos quais se chega na intenção de refletir a respeito de algum tema mais ou menos 'sério' ou 'filosófico'. Me parece que ficam de fora as obras de pura ficção, quero dizer os romances, as novelas ou outras.Não que esses gêneros não sejam 'sérios'... Quanto à poesia, penso que posso concordar com ele...
Grande abraço e parabéns pela iniciativa.

Marta Ordoñez disse...

Creio que o grande papel do escritor é fazer com que nós, leitores, analisemos a humanidade dos personagens, ao mesmo tempo em que analisamos a nossa.
Lembro-me de que um repórter entrevistou o ator Osmar Prado e este último dizia que é perfeitamente possível interpretar sob a 'ótica humana' (no teatro ou no cinema) os vilões que, infelizmente, fizeram história. É o caso, por exemplo, de Adolf Hitler.
O ator já o interpretou na peça "Uma rosa para Hitler". Na concepção do artista, é compreendendo os conflitos internos do ditador nazista que evitamos que outros ditadores surjam, a fim de que vivamos em uma democracia plena.
Adorei o que ele disse!
Tal é a função pedagógica e humanizante da literatura que consegue transformar as mazelas da sociedade em arte.