Todos os anos vividos no alto sertão do Rio Grande do Norte e Paraíba foram cursos naturais de literatura oral. Tive a revelação do meu “scholarship” quando estudei na cidade a outra literatura, livros, livros, livros, escolas, diagramas, influências, mestres, críticas, resumos.
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De 1920 a 1932 fui devorador de livros e Henrique Castriciano [escritor e político potiguar] seguia o ritmo delirante porque não era capaz de disciplinar-me quem nunca tivera disciplina.
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O vício da literatura greco-latina vacinou-me contra as ditaduras mentais contemporâneas.
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No meu tempo era pecado mortal o popular, o tradicional, o cotidiano, o comum. Fui professor catedrático concursado. Minha tese versou sobre a intencionalidade do descobrimento do Brasil. Pois bem, um colega professor foi pedir ao governador que me demitisse. Eu estava desmoralizando o estabelecimento. Não porque eu fosse pederasta ou coisa que o valha, mas porque falava pros alunos em lapinha, bumba-meu-boi, pastoril. Perguntava aos alunos se eles acreditavam em lobisomens, almas penadas, etc., e isso era uma desmoralização para o ensino superior do estado do Rio Grande do Norte.
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Minha condição de professor provinciano libertava-me da sugestão hipnótica dos grandes nomes citadinos.
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O processo criativo semelha ao da gravidez tubária. Existe em nós obscuro, afastado do puramente sensorial. Não se suspeita que se está grávido, platonicamente, resultante da mentalidade e da cultura de cada um.
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Sempre fiz um livro pensando no outro, que começaria logo em seguida. Sabe como surgiu o Dicionário do Folclore? Era inicialmente um simples caderninho de notas para facilitar o meu trabalho. Foi crescendo tanto que quando me apercebi já estava com um trabalho pronto.
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Felizmente, eu nunca aprendi gramática, que é inutilizadora de grandes talentos, exceção feita apenas a Machado de Assis, que era nato. No dia em que ele viu uma gramática, se assombrou.
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A crítica ou a concordância não influirão no movimento da seiva vital.
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Não se assombre, em Natal eu sou o único pecador profissional. Os outros são amadores.
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A rede [de dormir] colabora no movimento dos sonhos.
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O livro que mais me agrada entre os meus é Canto de Muro*, publicado pela José Olympio em 1959. Nem sequer posso modificá-lo porque parece trabalho mediúnico. É o que mais amo pelo conteúdo de intensa significação moral e pelo esforço em realizá-lo.
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O que me interessa é a vida do povo na sua normalidade, como ele vive, as manifestações da legitimidade social. Dedico-me a descobrir as permanências da vida brasileira.
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A recompensa do trabalho é a alegria de realizá-lo. Quando termino um trabalho, estou pago.
* Visite a sua livraria ou consulte a Estante Virtual www.estantevirtual.com.br .
Coletânea de citações retiradas de livros, entrevistas e falas do autor, respectivamente: História da Literatura Brasileira, vol. VI, 1952; Nosso amigo Castriciano, 1965; Dois ensaios de História, 1965; Jornal “O Saco”, nº 3, julho de 1976; Ontem, 1972; conversa com o autor da coletânea, Diógenes da Cunha Lima; Revista “Manchete”, entrevista concedida a Cassiano Arruda, 1967; Idem; O tempo e eu, 1968; Jornal “O Saco”, nº 3, julho de 1976; Rede de dormir, 1959; Mensagens de Câmara Cascudo e Cosme Lemos – Coletânea de Thadeu Villar de Lemos, vol. 1, 1972; Idem; Idem.
Fonte:
Diógenes da Cunha Lima, Câmara Cascudo; um brasileiro feliz. 3ª. ed., rev. e aum., comemorativa dos 100 anos de nascimento de Luís da Câmara Cascudo. Rio de Janeiro: Lidador, 1998.
Este registro, rara leitora, pretende ser singela homenagem ao grande etnólogo brasileiro Luís da Câmara Cascudo, extensiva à cultura potiguar e aos amigos natalenses. Na próxima semana a bela cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte, receberá os pesquisadores que irão participar do XXXI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, promovido pela Intercom e pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, com apoios e parcerias de muitas outras instituições.
Saiba mais em www.intercom.org.br e http://www.cchla.ufrn.br/intercom2008/ .
Serão certamente dias de intenso trabalho para muitos e uma festa para todos, visitantes e anfitriões. Natal será um belo espaço para acolher um dos mais importantes eventos acadêmicos brasileiros. Até lá.
Saiba mais
1. Luís da Câmara Cascudo:
“Centenário do nascimento de Luís da Câmara Cascudo”, por Vicente Serejo:
http://www.memoriaviva.com.br/cascudo/vida1.htm
Luís da Câmara Cascudo na Wikipédia:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Lu%C3%ADs_da_C%C3%A2mara_Cascudo
Museu Câmara Cascudo
http://www.mcc.ufrn.br
Memória viva de Câmara Cascudo:
http://memoriaviva.digi.com.br/cascudo/index2.htm
2. Natal:
Prefeitura do Natal:
http://www.natal.rn.gov.br/
Mochila Brasil
http://www2.uol.com.br/mochilabrasil/natal.shtml
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4 comentários:
Olá Aníbal Bragança,
Sou aluna de Produção editorial -UFRJ e soube do seminário sobre a "aventura editorial" aqui no Brasil. Só gostaria de informá-lo que divulguei este evento em producaoeditorial-ufrj.blogspot.com , blog dos alunos de Produção Editorial com o objetivo de promover, além do curso, um debate sobre as questões do livro neste país.
Aliás, gostei muito do seu blog. Posso adicioná-lo em nossa lista de links?
Um abraço,
Oi Taynée,
seu comentário entrou 2 vezes, por isso a exclusão do que era repetição.
Fico muito contente de saber do seu blog e que você está divulgando o evento da ECO/UFRJ, em que irei participar.
Acho ótimo que adicione o link para o este blog e sugiro que conheça o e-grupo Intercom Núcleo Produção editorial http://groups.google.com/group/intercom-nucleo-producao-editorial .
Irei fazer o link também para o seu blog, logo que possível.
Mas já irei visitá-lo.
Um abraço,
Aníbal
Olá Aníbal,
Fui a este último Intercom em Natal e tive a oportunidade de assistir ao NP Produção Editorial. Eu cheguei um pouco depois e estava de blusa vermelha. Não sei se vc me viu, mas ia falar contigo depois sobre como contribuir com o grupo, o qual gostei bastante. Como a mesa atrasou um pouco e eu ainda tinha um trabalho a apresentar, não pude falar com vocês. Mas desde já, quero parabenizar o grupo!
Abs,
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