A fala e o corpo
Porque ainda não te amei
com o amor do corpo,
eu escrevo, eu falo.
Falo até demais,
mas, se me tocares,
te prometo: eu calo.
Já te escrevi um conto,
dez poemas,
estes versos traço,
Porque és único!
mas juro que este é o último
que te faço.
Brinco com as línguas,
rimo, faço graça,
crio meus compassos.
Misturo meus versos
às tuas palavras,
falas entrelaço.
É este o meu jeito
de sonhar que estamos
confundindo os traços.
E acasalados
nossos versos crescem
ficam fortes os laços.
Tecendo a manhã
que nem João Cabral,
Penélope de fato.
Quantas trovas
terei de fazer
pra merecer um abraço?
Apressemo-nos,
que a vida é breve
e o tempo anda escasso.
No limite
entre a fala e o corpo,
habita o falo.
Princesa
Passei tempo adormecida,
bela princesa encantada,
agora fico acordada.
Vou tecendo meus poemas
e acho que vale a pena
levar deste jeito a vida.
De tanto fazer poesia
me tornei mestre em poética,
assim deixei de ser cética.
Após a explosão trágica,
brota a emoção lírica
na escritura mágica.
Um dia fui paralítica,
hoje não sou mais dramática,
tenho orgulho de mim mesma.
Orquídea
Estava o livro pronto
dentro de mim,
bastava polir as pedras
do jardim.
Que violetas e dálias
de mil cores
brotam da alma lavada
pelas dores?
Delicadas são as pétalas
entre as coxas,
vislumbro uma orquídea rara
amarela e roxa.
E tão persistente exala
aroma de sua boca
que o pássaro se cala
e ela fala.
In-verso
João Cabral aconselha
do feijão tirar a pedra,
não do poema.
Comigo deu-se o inverso:
jogando fora os pregos,
fiz o verso.
Conservei algumas pedras,
o resto são flores
e amores.
Pois expelidos os ferros,
flui mavioso jardim
de mim.
Herança
De Cecília
herdo o tom
e a rima.
De Cabral
pedra seca,
o quarteto.
De meu pai
todo o tempo
o exemplo.
De mamãe
os segredos
e os medos.
Que herdo
de mim mesma?
Que herança deixo?
De mim herdo o passado
no presente.
A poesia – seixo –
lanço à corrente
do futuro.
Passei tempo adormecida,
bela princesa encantada,
agora fico acordada.
Vou tecendo meus poemas
e acho que vale a pena
levar deste jeito a vida.
De tanto fazer poesia
me tornei mestre em poética,
assim deixei de ser cética.
Após a explosão trágica,
brota a emoção lírica
na escritura mágica.
Um dia fui paralítica,
hoje não sou mais dramática,
tenho orgulho de mim mesma.
Orquídea
Estava o livro pronto
dentro de mim,
bastava polir as pedras
do jardim.
Que violetas e dálias
de mil cores
brotam da alma lavada
pelas dores?
Delicadas são as pétalas
entre as coxas,
vislumbro uma orquídea rara
amarela e roxa.
E tão persistente exala
aroma de sua boca
que o pássaro se cala
e ela fala.
In-verso
João Cabral aconselha
do feijão tirar a pedra,
não do poema.
Comigo deu-se o inverso:
jogando fora os pregos,
fiz o verso.
Conservei algumas pedras,
o resto são flores
e amores.
Pois expelidos os ferros,
flui mavioso jardim
de mim.
Herança
De Cecília
herdo o tom
e a rima.
De Cabral
pedra seca,
o quarteto.
De meu pai
todo o tempo
o exemplo.
De mamãe
os segredos
e os medos.
Que herdo
de mim mesma?
Que herança deixo?
De mim herdo o passado
no presente.
A poesia – seixo –
lanço à corrente
do futuro.
In Os passos da Paixão e outros poemas. Rio de Janeiro: Galo Branco, 2006. Na capa, detalhe de “O beijo”, de Gustav Limt. Prefácio de Roberto Acízelo de Souza. 86 p.
www.edicoesgalobranco.com.br
Graça Cretton, poeta, mestra e e doutora em Teoria Literária e Literatura Brasileira, fez trabalho memorável como professora no Instituto de Educação Prof. Ismael Coutinho, em Niterói, e, a seguir, na Faculdade de Letras da UFRJ, no Rio de Janeiro, a partir, respectivamente, da “Oficina Literária para alunos de 2º grau” e do “Laboratório de Criação Literária”.
Em muitos já terá despertado o prazer de ler e de escrever. Salve!
4 comentários:
Anibal,
Adorei a sua escolha dos poemas.Não sou Doutora em Literatura Brasileira, só em Teoria Literária pela UFRJ. Muito obrigada pela sua gentileza. Abraços,
Graça Cretton
Belos poemas.
Graça é um dos casos de aliança feliz entre a teoria e pratica poética.
Abraços,
Eliana Bueno
Fui aluna da querida mestra Graça Cretton em um curso optativo na UFRJ, em, talvez, 1990; pouco contato, mas suficiente para jamais tê-la esquecido! Gostei imensamente de seus versos, postados aqui. Deixo um abraço para ela e agradeço a você por ter sido o canal desse feliz reencontro. Karla Soares Antunes (www.klara-rakal.blogspot.com)
Adorei os poemas...
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