segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Deonísio da Silva: Doutores sem livros

Há vários lustros, para não dizer décadas, o livro vem deixando de ser referência solar nas universidades. Dois problemas se agigantam: os acervos das bibliotecas estão desatualizados e os autores são esquartejados, incessantemente em máquinas que copiam fragmentos esparsos que os alunos lêem apenas para atender a chamada bibliografia mínima indicada pelos professores.

Ilhas de exceção, denominados centros de excelência em classificação oficial, compoõem um vasto arquipélago, entretanto ainda sem a influência que dele se espera nesta fase de reorganização que o Brasil vive, assolado por tantas reformas.

Refletia sobre o tema quando recebi pela internet um sinal dos tempos. Poemas de alta qualidade, selecionados do que de melhor os poetas escreveram, recitandos sob fundo musical dos mais apropriados. A internet está oferecendo caminhos novos para o livro. (Um deles:
www.plataforma.paraapoesia.nom.br).

Logo na abertura do portal, talvez porque os autores foram postos em ordem alfabética, encontrei estes versos de Alberto Cunha Melo, extraídos de Dois Caminhos e um Oração (editora A Girafa), seu livro mais recente, na voz delicada e bonita de Cláudia Cordeiro Reis: “Escrevemos cada vez mais para um mundo cada vez menos,/para esse público dos ermos, compostos apenas de nós mesmos./uns joões batistas a pregar para as dobras de suas túnicas, seu deserto particular”.

No Brasil, é assim: nem bem você se entristece com um problema, alegra-se em seguida com a possibilidade de solução. Contente por encontrá-la, enfrenta entraves que parecem outras vez instransponíveis. Talvez seja esta uma das causas fundamentais da conhecida oscilação de humor nacional. Não é necessário muito tempo para o brasileiro passar da euforia mais escandalosa à mais desalodora depressão.
(...)

Este é um excerto do artigo de Deonísio da Silva publicado em 3/02/2004 no Jornal do Brasil, p. A9, que reencontro em recorte entre os bons achados da nova tentativa que faço de rearrumar os livros e papéis no meu escritório doméstico, depois da compra de mais uma estante. Pode contribuir, rara leitora, para nossas reflexões recentes sobre escrita, leitura e autores sem livros?

Leia o texto completo em Trilhas Literárias:
http://www.plataforma.paraapoesia.nom.br/tdeo_plata.htm
Onde poderá encontrar informações sobre o professor, ensaísta, romancista e cronista Deonísio Silva, autor de uma obra admirável e palestrante que seduz com sua erudição e bom humor. Dirige o Instituto da Palavra, da Universidade Estácio de Sá (no Rio de Janeiro).

Leia também o que escreveu Deonísio da Silva sobre o livro Crônicas do rádio nos tempos áureos da Mayrink Veiga, de Luís Antônio Pimentel, 2004:
“Era do rádio: a voz dos fantasmas”, publicado no Observatório da Imprensa. Acesse:
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=295AZL003

Nenhum comentário: