quarta-feira, 30 de maio de 2007

As gentes do livro, Lisboa, século XVIII

Dando continuidade a um belo projeto editorial da Biblioteca Nacional, de Portugal, acaba de ser lançada a obra As Gentes do Livro - Lisboa, Século XVIII, organizada por Diogo Ramada Curto (que faz o prefácio), Manuela D. Domingos, Dulce Figueiredo e Paula Gonçalves, com capa de Henrique Cayatte Design, em volume de 719 p.

O livro é mais um resultado do projeto de pesquisa "Guia de fontes bibliográficas e arquivístas para a história do livro em Portugal", realizado em parceria da Biblioteca Nacional com a Universidade Nova de Lisboa, que recentemente também deu à luz o volume Bibliografia da história do livro em Portugal: séculos XV a XIX, e, antes, a Livreiros de Setecentos, este uma coletânea de trabalhos realizados ou coordenados pela admirável investigadora Manuela D. Domingos, em seu sério e dedicado labor, em longos anos, na própria BN, ao levantamento e organização de fontes e ao seu estudo em prol do desenvolvimento da área em Portugal.

As Gentes do Livro, que é fundamentalmente um guia, divide-se em quatro partes: Personagens & ofícios, Os portugueses nas fontes, Os estrangeiros na fontes, e Coletânea Documental, composta de Registos Notariais de Lisboa, Registo Geral de Testamento e Intendência Geral da Polícia. Esta parte, sem dúvida, já em si torna-se uma fonte indispensável a qualquer pesquisador que de agora em diante realize trabalhos na área, quer em Portugal, quer no Brasil. Isto porque as "gentes do livro" do século XVIII, em Portugal, já incluem agentes que atuam ou pretendem atuar, indireta ou diretamente na América Portuguesa, como o editor-impressor António Isidoro da Fonseca que em 1747 instalou a primeira tipografia no Brasil e que desgraçadamente, pelas circunstâncias políticas e econômicas da época, teve seu projeto abortado pelo poder metropolitano.

Mais informações: http://www.bn.pt/livraria/estudos/gentes-livro.html

terça-feira, 29 de maio de 2007

A tardia tipografia brasileira, aos olhos do cronista da época



O Brasil até ao feliz dia 13 de maio de 1808 não conhecia o que era tipografia; foi necessário que a brilhante face do Príncipe Regente Nosso Senhor, bem como o refulgente sol, viesse vivificar este país, não só quanto à sua agricultura, comércio e indústria, mas também quanto às artes, e ciências, dissipando as trevas da ignorância, cujas negras, e medonhas nuvens cobriam todo o Brasil, e interceptavam as luzes da sabedoria. Assim, por decreto datado deste mesmo dia dos seus felizes anos, Sua Alteza Real foi servido mandar que se estabelecesse nesta Corte a Impressão Régia, para nela se imprimirem exclusivamente toda a legislação, e papéis diplomáticos, que emanarem de qualquer repartição do real serviço, e também todas, e quaisquer obras, concedendo a faculdade aos seus administradores para admitirem aprendizes de compositor, impressor, batedor, abridor, e demais ofícios que lhe sejam pertencentes. Este máximo benefício, que Sua Alteza Real outorgou ao Rio de Janeiro, é bem de esperar que se comunique à Bahia, e também às capitais das principais províncias do Brasil, visto o sistema liberal que o mesmo augusto senhor tem adotado a favor dos seus vassalos desta parte dos seus domínios, e que se imprimam na América Portuguesa obras muito interessantes, que, ou já compostas, jazem na poeira do esquecimento, e do desprezo, ou que para o futuro se hajam de compor, facilitados os meios de se darem à luz pelo prelo.

Luiz Gonçalves dos Santos (Padre Perereca). Memórias para servir à História do Reino do Brasil, S. Paulo: Edusp; Belo Horizonte: Itatiaia, 1981 [1825], tomo I, p. 207. Capa de Cláudio Martins.

Foi assim que a implantação definitiva da tipografia no Brasil foi vista pelo cronista joanino, o presbítero da Irmandade de São Pedro conhecido como Padre Perereca (1767-1844) que legou à posteridade suas alentadas memórias, cujos originais, de próprio punho, se encontram no acervo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IGHB). Em que pese o tom de louvor ao Príncipe Regente, suas memórias são consideradas pelos editores como “o mais exato e minudente informe do Brasil de 1808 a 1821”.

Raro leitor e rara leitora, penso que nos cabe refletir sobre o tom iluminista do narrador numa época em que o Império Português se debatia entre um incipiente liberalismo (a serviço da Inglaterra) e a sobrevivência dos traços característicos do Antigo Regime. Na realidade, na vida e na história, nada é simples, nem facilmente classificável. A discutir, com certeza, no(s) evento(s) que marcarão os 200 anos da chegada ao Brasil da Família Real, que nos permitiu, finalmente, ter aqui de forma definitiva a chamada escrita mecânica ou arte negra.

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Geir Campos, poeta, contista, tradutor e editor



Cidades

Leio livros
sobre a cidade
antiga
e penso
nas cidades do meu tempo:
todas iguais
ou muito parecidas
com seus mercados
e suas lojas
vendendo as mesmas
mercadorias...
será isso
o que se denomina
“liberalismo”
ou será, antes,
o “socialismo”?
Igualdade!
Liberdade!
Fraternidade?
Pois sim!

Haikai
Olha os olhos do afogado!
Deve haver coisas terríveis
no fundo do mar.

Alba
Não faz mal que amanheça devagar,
as flores não têm pressa nem os frutos:
sabem que a vagareza dos minutos
adoça mais o outono por chegar.
Portanto não faz mal que devagar
o dia vença a noite em seus redutos
de leste – o que nos cabe é ter enxutos
os olhos e a intenção de madrugar.

Geir Campos não foi apenas um artesão da palavra e um operário do canto. Além de autor de uma obra literária que certamente permanecerá, esteve presente em todas as frentes de ação pelo fortalecimento do livro como um veículo privilegiado para tocar a sensibilidade do ser humano e para alcançar a transformação da sociedade brasileira.

Os poemas de Geir Campos e o trecho acima (do depoimento “Geir Campos e o mundo do livro”), deste blogueiro, são partes do livro A profissão do poeta & Carta aos livreiros do Brasil, organizado por Maria Lizete dos Santos e Aníbal Bragança, editado 2002, graças ao programa de Adroaldo Peixoto Garani, enquanto presidente da Imprensa Oficial do Estado do Rio de Janeiro, de publicar obras de interesse para a cultura fluminense.

Os livreiros, tradutores, editores e autores certamente terão grande proveito com a leitura deste pequeno volume, assim como todos os que apreciam boa literatura nacional. Procure-o, rara ou raro leitor, no seu livreiro ou na biblioteca mais próxima e deleite-se.

terça-feira, 22 de maio de 2007

Lançamento da Tupigrafia 7 no Rio de Janeiro

Neste sexta-feira, dia 25 de maio, às 19h30, será feito o lançamento do número 7 da revista Tupigrafia, na sala C502 do campus Ipanema, da UniverCidade. Neste mesmo dia haverá uma palestra com o designer gráfico Cláudio Rocha, editor da publicação.

A revista brasileira de tipografia, cuja publicação se iniciou no ano 2000, já foi lançada em São Paulo no fim do mês de março deste ano. Na sétima edição há artigos de Lia Monica Rossi (form. Esdi 1972) e José Marconi de Souza, e de Rico Lins (form. Esdi 1976). Algumas imagens da Tupigrafia 7 podem ser vistas no site:
www.flickr.com/photos/tupigrafia/sets/72157600003028316.

Além do lançamento, serão realizadas uma exposição sobre a Tupigrafia na Galeria da UniverCidade, e a aula "O conceito de qualidade de uma fonte digital (idéia, desenho e produção)", ministrada por Cláudio Rocha.

A mostra ficará aberta entre os dias 18 e 30 de maio, das 9h00 às 22h00. A aula ocorrerá no dia 26 de maio, das 12h00 às 14h00. Os interessados na aula devem se inscrever pessoalmente no IAV (Instituto de Artes Visuais), na unidade Ipanema. A taxa de inscrição é R$ 25,00. O campus Ipanema fica na Av. Epitácio Pessoa, 1664 (Ipanema).

Mais informações no site: www.tupigrafia.com.br.

Agradecemos a Lia Mônica Rossi a notícia/o convite que repassamos a você, rara ou raro leitor.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

XXX Congresso Intercom - Participação com trabalhos

Comunicamos aos colegas da área multidisciplinar de estudos do livro, leitura, cultura letrada, quadrinhos e produção editorial que o prazo para envio de trabalhos para o VII Encontro Nacional do Núcleo de Pesquisa Produção Editorial da Intercom, que se realizará nos dias 1º e 2 de setembro próximo, durante o XXX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, em Santos (SP), foi prorrogado até ao dia 14 de junho.

Aos interessados lembramos que devem consultar o sítio virtual da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação - Intercom - para obter as demais informações necessárias www.intercom.org.br .

Outros espaços virtuais de interesse:

INTERCOM Núcleo Produção Editorial
http://groups.google.com/group/intercom-nucleo-producao-editorial

Cultura Letrada
http://groups.google.com/group/cultura-letrada

domingo, 20 de maio de 2007

O cobrador, de Rubem Fonseca e Rubens Gerchman



A Confraria dos Bibliófilos do Brasil, com sede em Brasília, acaba de brindar seus confrades com o 19º lançamento: O cobrador e outros contos de Rubem Fonseca, com ilustrações de Rubens Gerchman.

A edição é de 351 exemplares numerados, assinados pelo autor e pelo ilustrador, em formato 30,0 cm x 29,5 cm, com 105 p., impressos em máquina tipográfica manual e encadernados em papel artesanal. Cada volume é protegido por uma caixa em cartão com o selo da Confraria.

Os contos que compõem o volume, selecionados pelo próprio autor, são: A Força Humana, Encontro no Amazonas, Feliz Ano Novo e Balão Fantasma, além de O cobrador. O livro mantém ou até mesmo supera o excelente nível de qualidade gráfico-editorial que tem caracterizado os trabalhos da Confraria presidida por José Salles Neto.

Além disso, é de se destacar nesta edição os nomes dos dois artistas reunidos pela relevância que têm, respectivamente, na literatura e nas artes plásticas brasileiras.

Mais informações: conbiblibr@yahoo.com.br Tel. 55-61-3435-2598
A ilustração reproduz a serigrafia do artista que abre o volume.

sábado, 19 de maio de 2007

Real Gabinete Português de Leitura, de José Carlos de Vasconcelos

Entre a serena amizade dos livros,
sento-me e sinto a língua portuguesa.
Em tudo está presente: ar, chão, mesa,
estantes severas, sabores antigos
a mar e a sol, incrivelmente vivos.

Incrivelmente novos. Portuguesa
língua de Vieira, Eça, Camilo,
de Machado, Pessoa, Drummond, Rosa,
Amado. Fruto da mãe natureza
Que em todo seu esplendor se reveza
Em livros e madeira preciosa.

Oh! Silente, secreta, catedral,
feita de palavras incandescentes
de tantos povos e de tantas gentes:
palavras do Brasil e Portugal,
Camões de mãos dados com Tiradentes.

E ao meio-dia, quando a voz dos sinos
da igreja de São Francisco se alia
à vozearia da multidão
naquelas ruas, ruelas e praças,
e entra casa dentro, uma e outra vez,
doze vezes direta ao coração
- também os sinos falam português.

A língua portuguesa, o maior laço que une as culturas portuguesa e brasileira, é homenageada neste poema do jornalista e escritor lusitano, José Carlos de Vasconcelos, diretor do tradicional e bom Jornal de Letras, Artes e Idéias, publicado em Lisboa. O poema expressa de forma muito sensível o ambiente que cerca o leitor no salão central do Real Gabinete, no Rio de Janeiro, uma experiência que nos devemos oferecer sempre, privilégio da cultura letrada na Cidade Maravilhosa.

Fonte: Marcador de livros distribuído pela diretoria do Real Gabinete na solenidade comemorativa do seu 170º aniversário.

Para saber mais, visite:
José Carlos de Vasconcelos:
http://www.jornalistas.online.pt/noticia.asp?id=417&idCanal=406
Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro:
http://www.realgabinete.com.br/
Jornal de Letras, Artes e Ideias – Portugal:
http://visao.clix.pt/default.asp?CpContentId=333360

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Granada la bella, de Angel Ganivet



En el comienzo de este siglo, España ha atravesado días muy duros; ha tenido que hacer frente a una invasión y los que dieron la cara no fueron en verdad los doctos. Esos pasaron todos el sarampión napoleónico, y en nombre de las ideas nuevas se hubieran dejado rapar como quintos e imponer el imperial uniforme. Los que salvaran a España fueron los ignorantes, los que no sabían leer ni escribir. ¿Quién dio pruebas de mayor robustez cerebral: el que, seducido por ideas brillantes, aún no digeridas, sintió vacilar su fe en su nación, y se dejó invadir por la epidemia que entonces reinaba en toda Europa, o el que con cuatro ideas recibidas por tradición supo mantener su personalidad bien definida ante un Poder tan absorbente y formidable?

Sabedlo, pues, pedagogos de tres al cuarto, propagandistas de la instrucción gratuita obligatoria: Jeremias de la estadística, que os sofocáis cuando veis en ella que el cincuenta por ciento de los españoles no saben leer ni escribir y pretendéis infundirles conocimientos artifíciales por medio de caprichosos sistemas: el único papel decoroso que España ha representado en la política de Europa en lo que va de siglo no lo habéis representado vosotros o vuestros precursores, sino que lo ha representado ese pueblo ignorante que un artista tan ignorante y genial como él, Goya, ha simbolizado en el cuadro El Dos de Mayo, en aquel hombre o fiera que, con los brazos abiertos, el pecho salido, desafiando con los ojos, ruge delante de las balas que le asesinan.
(p. 60s)
O excerto que oferecemos a você, rara e raro leitor, é do livro Granada la bella, de Angel Ganivet (1865-1898), escritor e pensador espanhol, granadino, que se constitui de doze cartas enviadas, no período de 14 a 27 de fevereiro de 1896, de Helsinki (Finlândia), onde servia como cônsul da Espanha, para serem publicadas em série num jornal de Granada, e que posteriormente foram editadas em volume. As interessantíssimas cartas têm os seguintes títulos: Puntos de vista; Lo viejo y lo nuevo; !Agua!; Luz y sombra; No hay que ensancharse; Nuestro carácter; Nuestro arte; Qué somos?; Parrafada filosófica ante una estación de ferrocarril; El constructor espiritual; Monumentos; e, Lo eterno femenino. Além de nos remeter historicamente ao século XIX espanhol e europeu, expressam, a partir de uma relação amorosa com sua cidade natal, um autor com um pensamento singular e bem humorado sobre o que é viver em cidades e seus desafios numa época de grandes transformações na vida urbana, educacionais, culturais, econômicas, sociais e tecnológicas.
No trecho selecionado parecem-nos relevantes as referências que faz o autor:
a) às invasões napoleônicas na Espanha e como se comportou diante delas a aristocracia do país - pelo que possa haver de paralelo ou não com a vinda da Família Real para o Brasil devido às mesmas invasões - e
b) à alfabetização popular que pretendia, segundo Ganivet, infundir no povo "conocimientos artificiales"! Parece-nos uma forma particular e sábia de perceber o quanto o sistema público de ensino iria, então, solapar os saberes das culturas tradicionais populares de Espanha e os substituir por tais saberes artificiais. Como ocorreu em todos os países.
O que acha disso, rara ou raro leitor?

Registramos, ainda que quase toda a obra publicada de Angel Ganivet foi lançada entre 1896 e 1898, ano em que o autor se suicidou, aos 33 anos de idade. Segundo se afirma em nota editorial , por loucura, e talvez, por amor.

A edição de Granada la bella que utilizamos, tem o formato de 8cmx6cm, em papel-bíblia, com 25 ilustrações e 303 p., e foi publicada pela Aguilar, de Madrid, na coleção Crisol, v. 18, para ser distribuída como “felicitación de Navidad y Año Nuevo a todos nuestros amigos”, em 1962.

Outras informações sobre Angel Ganivet e sua obra:

terça-feira, 15 de maio de 2007

Um centenário: Agostinho da Silva (Porto, 13/2/1906-Lisboa, 3/4/1994)





A tua aproximação da liberdade passa pela tua solidão. (262)

Gostaria de beber da fonte de que brotam juntas a lógica e a fantasia. (263)

Talvez possa dizer que muitos dos desastres que causei foram devidos às boas qualidades. (271)

A liberdade que há no capitalismo é a do cão preso de dia e solto à noite. ( 278)

O problema central da educação formal ou instrução passou a ser o de preparar o indivíduo para não ter trabalho. O contrário do que se faz ainda. (276)

Todo o concreto vem de imaginar. (230)

Se fazes és: se não fazes serias. (225)

A escola tem sido fundamentalmente motivada pelo passado, espera-se que o venha a ser pelo futuro. (222)

Muitos dos êxitos que tive foram devidos aos defeitos que tenho. (186)

De Agostinho da Silva, no livro Reflexões, aforismos, paradoxos, 2006.


O grande pensador e pedagogo Agostinho da Silva, que viveu no Brasil de 1944 a 1969, onde foi acolhido para escapar da ditadura salazarista, participou ativamente da vida acadêmica brasileira, desde a criação da Universidade Federal da Paraíba (1952) e da Universidade Federal de Santa Catarina (1955) até à fundação de vários Centros de Estudos, como o Africanos e Orientais na Universidade Federal da Bahia (1959-1961), o Brasileiro de Estudos Portugueses da Universidade de Brasília (UnB), em 1962, o de Estudos Goianos, o de Estudos Latino-Americano, em Porto Alegre e o de Estudos Europeus, no Paraná.

Ao ensejo do centenário de nascimento o Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro publicou, tendo como editor o seu próprio presidente, Antônio Gomes da Costa, um número especial da revista Convergência Lusíada, v. 23, 447 p., com ensaios sobre a obra de Agostinho da Silva, de autores portugueses e brasileiros, além de textos do próprio pensador.

Este lançamento, feito na ocasião das comemorações dos 170 anos da fundação do Real Gabinete, soma-se à edição feita em 2006 por Victor Alegria, da Thesaurus, de Brasília, de volume do próprio Agostinho da Silva, Reflexões, aforismos, paradoxos, em cuja apresentação Constança Marcondes Cesar, professora titular da PUC de Campinas, afirma ser “um conjunto de aforismos, nos quais, aparentemente sem plano pré-fixado, o autor mostra um resumo de seu pensamento”.

Mais informações:
http://www.realgabinete.com.br/
http://www.thesaurus.com.br/produto.asp?produto=1016
http://www.agostinhodasilva.pt/


segunda-feira, 14 de maio de 2007

Linha Mestra – Revista digital – Já disponível o número 2

Publicada pela Associação de Leitura do Brasil (ALB) é dedicada, em especial, a questões relativas às práticas de leitura e educação em nosso país.

Índice:
CAPA: "Menino Lendo" - Samuel John Peploe (1871-1935), Escócia
EDITORIAL - A importância de Chartier, Conselho Editorial
RETINAS - As retinas (im)pertinentes de Bakunin
ENTREVISTA - Estação da Leitura, Maria Afonsina Ferreira Matos
DEPOIMENTO - O CELIJ de Presidente Purdente, Renata Junqueira de Souza
IMAGEM - Leitura na retina de Michelangelo
POEMA - Prova de Francês, Maria do Rosário Mortatti
CONTO - Receita, Ana Elisa Ribeiro
ARTIGO 1 - Reflexões sobre a inserção na cultura digital, Daniela Perri Bandeira de Albuquerque
ARTIGO 2 - Notas de estudo: a história cultural e as possibilidades de pesquisa leitura, Carlos Humberto Alves Corrêa
LANÇAMENTO - Não-violência em educação, Jean Marie Muller

Mais uma excelente contribuição da ALB www.alb.com.br .
Vale a pena conferir: http://www.alb.com.br/pag_revista.asp

sábado, 12 de maio de 2007

Novo livro de Israel Pedrosa: greve na Cultura altera o lançamento










O editor Léo Christiano comunica-nos que, em virtude da greve prevista do pessoal das instituições do Ministério da Cultura, foi transferido o lançamento do novo livro de Israel Pedrosa, Na contramão dos preconceitos estéticos da era dos extremos, para o Museu do Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro. A data foi adiada para 31 de maio corrente, às 17h.
Foram mantidas a palestra do autor e a leitura de textos do livro por Kátia Bretas e Luzia de Maria.

A obra reúne trabalhos diversos que vão do campo das artes plásticas até Monteiro Lobato e Geir Campos, mostrando as intervenções do autor nas questões estéticas de nosso tempo, além de breves estudos sobre artistas contemporâneos, alguns, seus companheiros de viagem na cultura brasileira.

Esta será uma rara oportunidade de ver e ouvir Israel Pedrosa que, com seus 81 anos, se vem mantendo quase recluso em seu belo atelier em Icaraí, onde desenvolve intenso e monumental trabalho de pintura e escritura para seu livro Dez aulas magistrais, no qual estuda profundamente a vida e a obra de dez grandes nomes da arte ocidental, desde Leonardo Da Vinci, de forma original e surpreendente.

Mais informações:
leochristiano@openlink.com.br e (21) 2234-8594 / 2568-1979



sexta-feira, 11 de maio de 2007

170º aniversário do Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro

Dias 13 de maio, domingo, com missa na Igreja da Candelária, às 11h, e dia 14, segunda-feira, com sessão solene na sede, onde participarão, como conferencistas, os professores Aníbal Pinto de Castro, da Universidade de Coimbra, e Evanildo Bechara, da Academia Brasileira de Letras, além de exposição e lançamento da revista Convergência Lusíada (número 23, em homenagem a Agostinho da Silva), serão comemorados os 170 anos de fundação do Real Gabinete, uma das instituições que melhor representam a capacidade de realização e de criação da comunidade que se formou no Brasil com os emigrantes lusitanos.

Ao lado da Biblioteca Nacional, é uma das mais belas bibliotecas do Rio de Janeiro. Oferece paz e ambiente propício para o desenvolvimento de leituras. Juntamente com o seu Centro de Estudos presta inestimáveis serviços aos pesquisadores do país e de fora dele, especialmente aos que se dedicam à história da cultura portuguesa e luso-brasileira. Vale conhecer, utilizar e apoiar.
Mais informações:
www.realgabinete.com.br

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Sobre Tito Pompônio Ático, editor de Cícero (106 a.C-43 a.C)

Ático, 109 a.C-32 a.C, que recebeu este nome depois de ter vivido na Grécia durante 20 anos, de 85 a 65, foi um intelectual e negociante romano, amigo de Cícero, a quem este dedicou o seu diálogo Da Velhice (De senectude).

Aquel hábil agricultor era al mismo tiempo un negociante sagaz que se ocupaba con suerte en todo género de comercios. Era muy diestro en sacar beneficios no sólo de las locuras ajenas, lo que es bastante común, sino de sus placeres; y su talento consistía en enriquecerse con lo que otros se arruinan. Se sabe, por ejemplo, que le gustaban mucho los libros buenos: ésta era entonces, como hoy, una manía costosa; él supo hacer de ella un manantial de excelentes beneficios. Había reunido en su casa un gran número de copistas hábiles a quienes instruía él mismo; después de hacer que trabajaran para él, y cuando sus deseos estaban satisfechos, los obligaba a trabajar para los demás, y vendía muy caro al público aquellas copias. De esta manera fue un verdadero editor para Cicerón, y como las obras de su amigo se vendían mucho, sucedió que aquella amistad, tan llena de encantos para su corazón, no fue inútil para su fortuna. En rigor, este comercio podía hacerse público. No estaba prohibido a un amante de las letras hacerse librero; (...)

O excerto acima é da obra de Gaston Boissier (1823-1908), Ciceron y sus amigos, editada em versão castelhana de Antonio Salazar, pela El Ateneo, em 1944, em que se refere aos trabalhos de editor empreendidos por Ático em sua estadia grega.

A atividade editorial antes da invenção da tipografia é uma questão controvertida. Para alguns (dentre eles se inclui este escriba) somente se pode chamar de editor, verdadeiramente, àqueles que, além de dar à luz os livros feitos a partir dos originais dos autores, também os publicam, isto é, os colocam ao alcance de um público anônimo, o que só foi possível a partir do Renascimento. Entretanto, a experiência de Ático, inclusive porque fazia cópias para vender e ganhar dinheiro, poderá ser incluída nessa categoria, mesmo em se tratando de cópias manuscritas de autores latinos para os poucos leitores e bibliófilos da Ática de então.
O que acha, rara ou raro leitor?

Sobre as invenções humanas, de Francis Bacon (1561-1626)

(...)
Digne-se o homem considerar a diferença infinita que se observa na maneira de viver entre os habitantes das partes mais civilizadas da Europa e os da região mais selvagem, mais bárbara do Novo Mundo; considerando bem esta diferença, sentiremos mais do que nunca que, se podemos dizer com certeza que tal homem é como um Deus com relação a outro, não é apenas por causa da ajuda que ele proporciona alguma vez aos seus semelhantes e dos benefícios que derrama sobre eles, senão também por causa das situações.

Porém, qual é a verdadeira causa que estabelece tão prodigiosa diferença? Não é certamente o clima, nem o solo, nem a constituição física, senão as artes, somente as artes, os conhecimentos.

Também é benéfico pousar o pensamento um instante sobre a sua força, sobre a surpreendente influência e conseqüências infinitas de certas invenções; o exemplo mais palpável e maravilhoso dessa influência, reside em três coisas desconhecidas para os antigos, que viram a luz humilde e silenciosamente: a imprensa, a pólvora e a bússola.

Estes três inventos modificaram a face do globo terrestre produzindo três grandes revoluções: a primeira nas letras, a segunda na arte militar e a terceira na navegação, revoluções que deram origem a infinidade de variações de toda espécie e cujo efeito foi tal que não há império, seita nem astro que pareça ter tido ascendente, que haja exercido influência tão grande sobre as coisas humanas.
(...)

Excerto de Novum organum - Interpretação da natureza e predomínio do homem [1620], de Francis Bacon, trad. de L. A. Fischer, Brasília Editora, s/d., p. 136-7, Biblioteca de Cultura Clássica, . Foi feita atualização ortográfica.

A obra integral está disponível na rede:
http://ich.ufpel.edu.br/economia/professores/nelson/metodecon/novum_organum.pdf
Informações sobre o autor: http://pt.wikipedia.org/wiki/Francis_Bacon_(fil%C3%B3sofo)

*
O registro do século XVII sobre as invenções que tiveram maiores repercussões sobre a história da humanidade até então, feito por um do mais importantes filósofos modernos, coloca a tipografia como a responsável pela grande revolução no campo das letras. Muito viria ainda a acontecer para confirmar o acerto da percepção de Francis Bacon.

Nós, que vivemos numa situação cultural em contraste com a da invenção de Gutenberg (a ver em Walter Benjamin), não devemos menosprezar sua importância.

O que acha você, rara ou raro leitor?

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Serviço: Direitos autorais e o futuro do livro

Sugerimos a você, rara ou raro leitor que se interessa pelo tema, a leitura do artigo publicado no Estadão em 06 de maio de 2007 - 15:41:

O futuro dos livros com o impacto da internet
Novidades da web suscitam ampla discussão sobre propriedade intelectual
John Lanchester, do The Guardian

http://www.estadao.com.br/arteelazer/letras/noticias/2007/mai/06/89.htm

domingo, 6 de maio de 2007

Orhan Pamuk, Prêmio Nobel de Literatura 2006, sobre sua prática da escritura

Spiegel: Freqüentemente, o senhor fala sobre o trabalho de artesanato e paciência que é sua forma de escrever - como os pintores de miniaturas que o senhor retrata em seu livro Meu Nome é Vermelho.

Pamuk: Certamente vejo-me mais como artesão do que como artista. É claro, a criatividade e inspiração têm um papel. A verdadeira literatura é mais do que apenas uma história que alguém contou. Deve dar ao leitor a essência do mundo em um nível moral, filosófico e emocional. Eu tentei desenvolver essa verdade interior em todos os meus trabalhos. Mas sem a paciência e a habilidade de um artesão, até mesmo o maior talento é desperdiçado.

Spiegel: Quando o senhor é mais criativo?

Pamuk: Sou uma pessoa altamente disciplinada. Me levanto às 7h todo dia e, ainda de pijamas, sento-me à escrivaninha onde meus fichários e minha caneta tinteiro estão prontos para serem usados. Tento escrever duas páginas por dia. Alguns dias, estou tão ansioso para ler o trabalho do dia anterior, trabalhar nele e dar prosseguimento que prefiro beber um café frio a fazer um novo. Sentar ali, ler e reescrever são minhas atividades favoritas.

In Dieter Bednarz e Annette Grossbongard. “Entrevista com Orhan Pamuk – ‘Ninguém me leva ao exílio", em 03/05/2007, na revista alemã Der Spiegel.
Fonte: http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/derspiegel/2007/05/03/ult2682u445.jhtm (acessível a assinantes da Folha de S. Paulo e/ou do UOL).

Ferit Orhan Pamuk nasceu em Istambul (Turquia), a 7 de junho de 1952, no seio de uma família rica, estudou engenharia, arquitetura e jornalismo, fora do país. A partir de 1974, passou a dedicar-se à literatura. É considerado o maior romancista turco da atualidade, com obras traduzidas em mais de trinta idiomas. Livros editados no Brasil, pela Cia. das Letras: Meu nome é vermelho, Neve, Istambul - memória e cidade.

Surpreende-nos, rara ou raro leitor, que um escritor atual mantenha sua prática de escritura com caneta tinteiro! E faz-nos pensar no que é ser escritor o seu artesanato que tem como meta escrever duas páginas ao dia. Como isso pode nos ensinar sobre o escrever bem e a paciência, disciplina e perseverança que tal prática exige. Um exemplo a considerar.

sábado, 5 de maio de 2007

Leitura nas Confissões de Santo Agostinho (354-430)

Confissões VI: O trabalho de Ambrósio

(...) No pouquíssimo tempo em que não estava com eles, [Ambrósio} refazia o corpo com o alimento necessário, ou o espírito com a leitura.

Mas, quando lia, os olhos divagavam pelas páginas e o coração penetrava-lhes o sentido, enquanto a voz e a língua descansavam. Nas muitas vezes em que me achei presente – porque a ninguém era proibida a entrada, nem havia o costume de lhe anunciarem quem vinha –, sempre o via ler em silêncio e nunca doutro modo.

Assentava-me e permanecia em longo silêncio – quem é que ousaria interrompê-lo no seu trabalho tão aplicado? –, afastando-me finalmente. Imaginava que, nesse curto espaço de tempo, em que, livre do bulício dos cuidados alheios, se entregava a aliviar a sua inteligência, não se queria ocupar de mais nada. Lia em silêncio, para se precaver, talvez, contra a eventualidade de lhe ser necessário explicar a qualquer discípulo, suspenso e atento, alguma passagem que se oferecesse mais obscura no livro que lia. Vinha assim a gastar mais tempo neste trabalho e a ler menos tratados do que desejaria. Ainda que a razão mais provável de ler em silêncio poderia ser para conservar a voz, que facilmente lhe enrouquecia. Mas, fosse qual fosse a intenção com que o fazia, só podia ser boa, como feita por tal homem. (...)

In Santo Agostinho, Confissões, trad. de J. Oliveira Santos, S.J., e A. Ambrósio de Pina, S.J. S. Paulo: Abril, 1973, 1a. ed., p. 111. Coleção Os Pensadores, v. VI.

Oferecemos a você, rara ou raro leitor, um pequeno excerto da obra de Santo Agostinho muito citado pelos historiadores da leitura quando se querem referir aos primeiros registros da leitura feita em silêncio, tão comum hoje que parece ter sido sempre assim, mas que durante séculos e em muitas práticas sociais em diferentes culturas foi feita em voz alta, para proveito do próprio leitor, por vezes, também, do autor do texto, de discípulos ou de condiscípulos, de quem não sabia ler etc. Na época Agostinho sentiu necessidade de justificar a prática de seu mestre.

Post-scriptum:

Santo Agostinho nasceu em 13 de novembro de 354, em Tagaste (hoje Souk-Ahras), na Argélia; morreu em 28 de agosto de 430, em Hipna (hoje Annaba, na Argélia). Cresceu no norte da África colonizado por Roma e foi educado em Cartago. Foi professor de retórica em Milão, em 383. Converteu-se ao cristianismo pela pregação de Ambrósio de Milão. Em 396 foi nomeado bispo assistente de Hipona (com o direito de sucessão em caso de morte do bispo corrente), e permaneceu como bispo de Hipona até sua morte em 430, durante o cerco de Hipona pelos Vândalos. No mesmo volume da coleção Os Pensadores citado está incluído o belo livro de Santo Agostinho, De magistro (Do mestre), que se inicia com o capítulo "Finalidade da linguagem", seguido de outros como, "O homem mostra o significado das palavras só pelas palavras", "Se devemos preferir as coisas, ou o conhecimento delas, aos seus sinais", "Se é possível ensinar algo sem sinais. As coisas não se aprendem pelas palavras" etc. Animou-se a procurar o volume no seu sebo preferido?

Comece a ler mais de e sobre Santo Agostinho na Wikipédia - a enciclopédia livre -, de onde extraímos as referências acima:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Agostinho_de_Hipona

O que é "contexto desfavorável"?, de Paulo Coelho

Tenho uma grande admiração por Roberto Carlos - recentemente, um dos mais importantes programas da BBC Radio me perguntou a lista de cinco discos que eu levaria para uma ilha deserta, e incluí um dos seus. E, apesar dos problemas normais decorrentes de uma relação profissional, tenho um grande respeito pela editora Planeta, que publica minhas obras no Brasil e em vários países de língua espanhola.

Dito isso, é com grande tristeza que leio nos jornais que, na 20ª Vara Criminal da Barra Funda, em São Paulo, os advogados do cantor Roberto Carlos e da editora Planeta fizeram um acordo que prevê a interrupção definitiva da produção e comercialização da biografia não-autorizada "Roberto Carlos em Detalhes", do jornalista e historiador Paulo Cesar Araújo. O editor diz um disparate para salvar a honra, o cantor não diz nada e o autor fica proibido de dar declarações a respeito. E estamos conversados.

(...)
Diz o velho ditado: "Quem está no fogo é para se queimar". Eu acrescento: Quem está no fogo é para ajudar a fogueira a brilhar mais ainda. Não adianta o meu editor declarar que fez o acordo "porque o contexto era desfavorável". Ele precisa vir a público explicar qual é esse contexto - ou seja, se estamos falando de calúnia. Neste caso, tem meu apoio integral, pois calúnia é sinônimo de infâmia. Mas, caso contrário, está colaborando para que comece a se criar um sério precedente - a volta da censura.

Roberto Carlos tem muito mais anos na mídia do que eu; já devia ter se acostumado. Continuarei comprando seus discos, mas estou extremamente chocado com sua atitude infantil, como se grande parte das coisas que li na imprensa justificando a razão da "invasão de privacidade" já não fosse mais do que conhecida por todos os seus fãs.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz0205200708.htm (acessível a assinantes da Folha de S. Paulo e/ou do UOL. O artigo foi publicado no dia 2 de maio de 2007)

Paulo Coelho e Roberto Carlos são duas das maiores expressões da cultura brasileira – isso mesmo! – e tenho grande admiração por ambos. E, mais, me encantam e emocionam várias das músicas de nosso Rei, ainda hoje. E isso começou com “E que tudo mais vá para o inferno”, em idos de 1960! E também afirmo ser leitor, muito atento e interessado, das crônicas publicadas nos jornais por nosso maior sucesso literário de todos os tempos, no país e fora dele. Nunca li um livro de Paulo Coelho e sei que é necessário ampliar o conceito de literatura para incluir aí sua obra, mas admiro sua trajetória, seu jeito de ser e sua postura diante do sucesso. Dito isso, repito-o, acho que tem razão Paulo Coelho em propor à discussão o que se passou no caso da proibição da circulação da biografia de Roberto Carlos, que também não li, porque não tive curiosidade nem tempo para isso. Mas o que interessa, no caso, é o que levou a obra de um historiador feita, ao que tudo indica, com grande empenho e seriedade, ser proibida de circular, a serem queimados os exemplares disponíveis! Isso cheira mal.

Sabemos que tudo é complexo e que não dá pra ver as coisas apenas em branco e preto, mas fazer "acordo" para a proibição de livros é grave. Que lhe parece, raro ou rara leitora?

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Dicas de um suplemento, de uma oficina e de concursos literários... e de um belo texto, em espanhol, sobre a relação amorosa com o pai e seus livros

El estudio
Diana Bracho

El estudio de mi papá olía a madera, cuero, tabaco, coñac y libros. Ahí pasé los momentos más ricos de los años que vivimos mi hermanito Jorge y yo solos con él. Mi papá: papi, pa, bello, asombroso padre soltero, hombre de espíritu clásico y renacentista, fundador del Teatro de ...

[clique aqui e leia todo o belíssimo texto:]
http://www.hojaporhoja.com.mx/articulo.php?albedrio=1&identificador=6375&numero=120

E aproveite para conhecer o excelente suplemento de livros, mexicano:
Hoja por hoja
http://www.hojaporhoja.com.mx/index.php


Concurso Nacional de Contos Josué Guimarães

Estão abertas até 31/5 as inscrições ao Concurso Nacional de Contos Josué Guimarães, promovido pela 12ª Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo (RS). Os concorrentes devem enviar três contos inéditos a endereços indicados no sítio do Instituto Estadual do Livro, que organizará volume com os premiados. O primeiro colocado recebe R$ 5.000 como prêmio; o segundo, R$ 3.000.
Mais informações: http://www.iel.rs.gov.br/

Prêmio Passo Fundo de Literatura, no valor de R$ 100.000,00
Destinado a autores de romances de língua portuguesa.

De 27 a 31 de agosto de 2007 realizar-se-á a 12ª Jornada Nacional de Literatura, quando será divulgado o resultado da 5ª edição desse prêmio, agora com o nome 5º Prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura, destinado ao melhor romance publicado em língua portuguesa.
Mais informações:
http://jornadadeliteratura.upf.br / jornada@upf.br

Leia mais sobre esse e outros concursos literários em:
Concursos e prêmios literários
http://www.concursosliterarios.com.br/home.php

A arte de contar histórias / Oficina de contação de histórias
Álvaro Ottoni
“Histórias revelam olhares e formas de ser e estar no mundo. Um convite à imaginação, à descoberta, à compreensão do ser humano, absolutamente necessárias e infinitas. Afinal, a palavra contada não é simplesmente fala. Ela é carregada de significados que lhe atribuem, o gestual, o ritmo, a entonação, a expressão facial e corporal e até o silêncio que entremeando-se ao discurso integra-se ela. O valor estético da narrativa oral está, portanto na conjugação de todos esses elementos.”
Mais informações:
alvarottoni@hotmail.com
www.luzesonhos.com.br/alvaro

Conheça também:

Amigos do Livro
www.amigosdolivro.com.br

Portal do leitor
http://www.portaldoleitor.com.br/index.php?id_comunidade=514

quinta-feira, 3 de maio de 2007

A técnica do escritor em treze teses, segundo Walter Benjamin, 2a. parte

Complementando o texto das 13 teses, cuja primeira parte foi postada dias atrás:

VII. Jamais deixe de escrever porque nada mais lhe ocorre. É um mandamento da honra literária só interromper quando um prazo (uma refeição, um encontro marcado) deve ser observado ou a obra está terminada.

VIII. Preencha a suspensão da inspiração passando a limpo o realizado. Com isso a intuição despertará.

IX. Nulla dies sine linea – mas talvez semanas.

X. Nunca considere como perfeita uma obra sobre a qual não se sentou uma vez desde a noite até o dia claro.

XI. Não escreva a conclusão da obra no local de trabalho habitual. Nele você não encontraria a coragem para isso.

XII. Graus da composição: pensamento – estilo – escrita. O sentido de passar a limpo é que, em sua fixação, a atenção diz respeito somente à caligrafia. O pensamento mata a inspiração, o estilo acorrenta o pensamento, a escrita remunera o estilo.

XIII. A obra é a máscara mortuária da concepção.

In Rua de mão única. Obras escolhidas, v. 2. Tradução de Rubens Rodrigues Torres Filho e José Carlos Martins Barbosa. S. Paulo: Brasiliense, 1987, p. 31.
www.editorabrasiliense.com.br

Cynthia, para quem, em especial, vai esta postagem,
confesso que a tese X foi um estímulo e um desafio para este modesto escriba em alguns de seus trabalhos publicados. Mesmo que o objetivo não fosse a perfeição, mas sua busca. Em geral, vã. Mas a consciência ficava mais tranqüila. Também já segui as recomendações das teses VIII e III (escrevi artigos ao som - alto e bom - de Santana!).

Quem sabe a você possam também ser úteis? Procure já o seu bem-estar e permita-se.

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Liceu Nilo Peçanha, de Niterói: é necessário preservar e fortalecer

Estamos apoiando o movimento encabeçado pelo professor João Batista de Andrade em favor do Liceu Nilo Peçanha, onde estudamos em anos felizes do início da década de 1960, contra a transferência das aulas para o prédio de uma universidade particular e também contra a demolição do tradicional pátio coberto, ponto de encontro dos alunos no recreio, a fim de construir no local, uma nova ala com 6 salas de aula. Os espaços de convivência são muito importantes. Tal demolição traz um agravante: é lá que os alunos fazem as refeições e na Universo, onde passariam os alunos a ter aula, segundo disse o diretor, não há cozinha nem refeitório, por isso, elas continuariam a ser feitas no Liceu, conforme mensagem de João Batista.

É algo que precisa ser mais debatido e talvez melhor direcionado. Atenção do grande professor Nelson Maculan, atual Secretário de Educação do Estado do Rio de Janeiro.

Atenção, também, governador Sérgio Cabral e prefeito Godofredo Pinto, outro professor que conhece bem o que é um Liceu na vida de uma cidade (ao menos o de Campos).

O Liceu Nilo Peçanha é muito importante – ele nasceu da primeira Escola Normal, do Brasil e da América Latina -, e é muito querido em Niterói.

Fazer nascer com as crianças o gosto pela leitura, em Portugal

A Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis associou-se ao projecto estatal ‘O meu brinquedo é um livro’, cuja finalidade se prende com a promoção da leitura junto das crianças, desde a mais tenra idade. Além disso, este programa pretende dar alguns conselhos práticos aos pais, no sentido de que os progenitores também sejam um veículo difusor da leitura.

Tendo como pano de fundo a estalagem de S. Miguel, a Câmara Municipal promoveu, no passado sábado, uma acção de sensibilização, no âmbito do projecto ‘O meu brinquedo é um livro’. A iniciativa foi pensada para os pais das crianças, visando promover o livro e a leitura a partir do berço. Durante a sessão foi, ainda, oferecido um kit, constituído pelo livro ‘O sonho de Mariana’, da autoria de António Mota e ilustração de Danuta Wojciechowska, uma almofada e um ‘Guia para Pais’.

‘O meu brinquedo é um livro’ é um projecto de promoção da leitura, proposto pela Associação de Professores de Português e pela Associação de Profissionais de Educação de Infância que, contando com a colaboração dos municípios portugueses, pretende colocar no berço de cada bebé nascido em Portugal um livro e uma almofada e nas mãos dos seus pais um guia, com conselhos para desenvolver o gosto de leitura.

Mais informações na fonte: http://www.correiodeazemeis.pt/?op=artigo&sec=6512bd43d9caa6e02c990b0a82652dca&subsec=&id=49f2772fac96f92458c85ad52a644b1e

Quando chegaremos lá? Algum dia o Estado brasileiro terá como prioridade o resgate da dívida social que tem com a grande maioria de seus cidadãos, penalizados com as gestões públicas, projetos e ações que privilegiam, especialmente desde o golpe militar de 1964, o bem-estar e os lucros dos financistas, especuladores e banqueiros?

Quando as políticas públicas terão como eixo o interesse da sociedade brasileira? Saudades, sim, do que não vivi, de Getúlio Vargas, o estadista chamado populista pelos seus detratores e inimigos.

Quando voltaremos a ter – se viermos a ter – estadistas no poder que pensem no Brasil das crianças, aquele que se começa hoje a construir?

São perguntas, rara ou raro leitor, que faço a mim mesmo e não encontro resposta. Tudo parece tão distante da realidade que hoje vivemos. E você, tem alguma resposta? Ou outra pergunta?

Post-scriptum:

Hoje, 2 de maio de 2007, no jornal Folha de São Paulo:

A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) divulgou ontem, na abertura de sua 45ª Assembléia Geral, um documento em que critica a política econômica do governo federal por privilegiar o pagamento dos juros da dívida pública e não atender "necessidades básicas dos trabalhadores e o desenvolvimento do país".
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0205200702.htm

O congresso de juízes do Trabalho patrocinado pela Federação Brasileira dos Bancos terminou em Natal com um ataque ao noticiário. "Essas críticas que fazem não consigo entender, a não ser pelo fato de se vender jornal", disse José Lopes Leal, ministro aposentado do TST, que se referia à divulgação de que 44 magistrados e familiares tiveram passagens, hospedagem em hotel de luxo e alimentação pagas pela Febraban.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0205200714.htm

terça-feira, 1 de maio de 2007

O lugar social do livro no século XIX, segundo Ortega y Gasset (1883-1955)

(...)
Pues bien, la Revolución francesa había dejado tras su melodramática turbulencia, transformada la sociedad europea. A su antigua anatomía aristocrática sucedió una anatomía sedicente democrática. Esta sociedad fue la consecuencia última de aquella fe en el libro que sintió el Renacimiento. La sociedad democrática es hija del libro, es el triunfo del libro escrito por el hombre escritor sobre el libro revelado por Dios y sobre el libro de las leyes dictadas por la autocracia.

La rebelión de los pueblos se había hecho en nombre de todo eso que se llama razón, cultura, etc. Estas vagas entidades vinieron a ocupar en el corazón de los hombres el mismo puesto central que antes había ocupado Dios, otra entidad no menos vaga. Hay una extraña propensión en los hombres a alimentarse, sobre todo, de vaguedades.

Ello es que, hacia 1840, el libro no es ya necesidad meramente en el sentido de ilusión, de esperanza, sino que, cesante Dios, volatilizada la autoridad tradicional y carismática, no queda más instancia última en que fundar todo lo social que el libro. Hay, pues, que agarrarse a él como a una roca de salvación. El libro es socialmente imprescindible. Por eso es la época en que surge el fenómeno de las ediciones copiosísimas. Las masas se abalanzan sobre los volúmenes con una urgencia casi respiratoria, como si fuesen balones de oxígeno.

La consecuencia de esto es que por vez primera en la historia occidental se hace de la cultura una ragione di Stato. El Estado oficializa las ciencias y las letras. Reconoce el libro como función pública y esencial organismo político. En virtud de ello la profesión de bibliotecario se convierte en burocracia – por una razón de Estado. (...)

Excerto de José Ortega y Gasset, Misión del bibliotecario. 2ª. ed. Revista de Occidente, Madrid, 1967, p. 76-7. Conheça mais do autor: http://es.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Ortega_y_Gasset

O texto de Ortega y Gasset, um filósofo espanhol considerado conservador, em que pese seu brilhantismo, aponta-nos para a importância do livro, e seus fundamentos, após o fim do Antigo Regime.

Vivemos, rara e raro leitor, em uma época em que o livro certamente perdeu sua aura e está, como algumas pessoas, encontradiço jogado pelas calçadas onde os passantes muitas vezes sequer olham nem para um nem para outras.

Aqueles que se sensibilizam diante dessa triste e complexa situação, poderão melhor enfrenta-la ou, ao menos compreendê-la, com maior conhecimento do lugar ocupado pelo livro em outros tempos. A leitura do ensaio que dá título a este volume de Ortega y Gasset muito enriquecerá os seus leitores. Todos, e não apenas os bibliotecários, a quem inicialmente foi dirigido como conferência de abertura do Congresso Internacional de Bibliotecários, em 20 de maio de 1935, em Paris.

No século XXI o livro deixou de ser “socialmente imprescindível”?
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