sexta-feira, 9 de março de 2007

A um amigo querido, Miguel Coelho

Acabo de saber, pelo telefonema da Leda, que você partiu, agora de manhã. Sua vida deixa um rastro de luz, de generosidade, de decência, de serviços prestados às causas da arte, da fraternidade e da justiça, vividas a partir de seu cotidiano em nossa amada Niterói. Vá em paz, querido Miguel, e vá com a consciência plena de dever cumprido.

Do folder/catálogo da Exposição Miguel Coelho: 50 anos de pintura, promovida pela Prefeitura de Niterói, com curadoria de Paulo Roberto Cecchetti, no Centro Cultural Paschoal Carlos Magno, no Campo de S. Bento, em Niterói, de 2 a 27 de agosto de 2006:

50 anos de múltiplas artes
Aníbal Bragança

Miguel Coelho já era artista completo – sua primeira exposição no Museu Antônio Parreiras é de 1956 (daí o cinqüentenário, óbvio) – quando se inaugurou, dez anos depois, ali perto do Museu, a Livraria Encontro (logo depois transformada em “Diálogo”).
A criação, então recente, da nossa Universidade, na qual Miguel Coelho viria a trabalhar, abrira um novo horizonte na cidade, inclusive para o sucesso de sua primeira livraria “moderna”, com os últimos lançamentos e livros importados, e pretensões a ser, desde o começo, um centro cultural ativo e “progressista”.
Miguel Coelho fez uma de suas primeiras exposições individuais na Encontro. Passou a freqüentá-la e a ser, sem querer, um mentor para os estudantes livreiros. Discreto sempre, mas um observador atento a tudo. Alegre, impressionava pela simplicidade e pelos seus talentos, inclusive o de contador de histórias, às vezes, mordaz.
Amigo de César de Araújo e Gastão Neves, era também ótimo poeta, sendo premiado no Concurso Nacional de Poesia Falada, evento promovido com muito sucesso na cidade, em 1968 e 1969. Alguns dos poemas de Miguel Coelho estão publicados na Antologia poética do Grupo Salina, organizada por César de Araújo, em l969, e na Antologia Água Escondida, editada por Neyde Barros Rego, em 1994.
Poucos conhecem os seus contos, que há muito deveriam estar em volume a circular nas livrarias do país e lidos pelos que apreciam a boa literatura brasileira. Miguel foi o vencedor do Concurso de Contos LIG/Pasárgada, em 1977, com o conto Bolo de aniversário, e também do Concurso Literário Stanislaw Ponte Preta, promovido pela Rio-Arte, da Prefeitura do Rio de Janeiro, em l995, com o conto “Olocotorp”.
Certamente a cultura de Niterói seria menos rica sem o trio que Miguel Coelho compunha com Luís Antônio Pimentel e Alaor Eduardo Scisínio, até este tristemente nos deixar. Esse trio agora se forma com Paulo Roberto Cechetti.
Uma das marcas impressas por Miguel Coelho na nossa vida literária está nas capas e ilustrações de inúmeros livros editados em Niterói e fora daqui, além dos belos álbuns que criou com seus bicos-de-pena, reproduzindo com fidelidade fortes, igrejas e fazendas fluminenses para a preservação de nossa memória patrimonial.
Miguel é também compositor premiado. Medalha de Ouro do II Festival Fluminense da Canção Popular, em 1968, e troféu de melhor samba-enredo de Niterói, em 1972, com o samba Jorge Amado pede passagem, feito em parceria com Adalu Pimentel. Sua música, com Chico Aguiar, Aleluia/aleluinha para cinco cavaleiros, foi finalista no V Festival Internacional da Canção (V FIC), em 1970, promovido pela TV Globo, além de ter sido a grande vencedora no IV Festival Fluminense da Canção Popular, no mesmo ano.
Quando se fizer a história cultural de nossa cidade, da segunda metade do século XX até hoje, Miguel Coelho necessariamente será um de seus personagens mais destacados, e não apenas como o grande artista plástico que é.
Feliz, assim, deve sentir-se a cidade-sorriso neste cinqüentenário artístico de Miguel Coelho, o mineiro de Matipó que se tornou um niteroiense que engrandece a cultura brasileira.

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