Sanfona, mostra que és boa,
dá-me agora um empurrão:
minha trova é uma canoa
rumo aos rios do sertão.
Sanfona bem afinada,
baixa o tom, sobe um bemol:
minha trova é uma jangada
com a vela inchada de sol.
Maquinista à moda antiga,
para engrenar vida nova,
ponho um truque de cantiga
nos trilhos da minha trova.
A poesia só funciona
Se for humano o motor:
- minha trova é de sanfona
dispensa o computador.
Nem Dom Juan, nem Casanova,
simplesmente um trovador,
nas entrelinhas da trova
sopro recados de amor.
Sobre o silêncio onde acampo
dos meus sonhos a legião,
minha trova é um pirilampo
que pontilha a escuridão.
Se o coração se entedia,
não desço ao fundo da cova:
subo ao monte da Poesia
no fusca da minha trova.
Por ser o molde perfeito
do que o povo anda a cantar,
a trova tem todo o jeito
da cantiga popular.
A trova soa bem leve,
porém se torna mais rica,
no estilo em que Heine escreve
com as gafes que Freud explica...
Cartas de amor... Campo-santo
de um sonho amarelecido...
No tempo, diziam tanto!
Agora, não têm sentido!
Caro Poe, desculpa o estorvo,
- não sei se é tédio ou esplim...
Mas vê se enxotas o corvo
que pousou dentro de mim!
Dizia Dante Alighieri,
ou, talvez, um outro autor:
- Não há prazer que supere
um sofrimento de amor.
Não vejo por onde escapes
a esta lei, clara e sucinta:
Deus traça o destino a lápis
e és tu que o cobres com tinta...
Leitor, o livro, em verdade,
é seu. Pertence a você.
O autor só fez a metade.
Autor do resto... é quem lê.
Sávio Soares de Sousa, Rapsódia para sanfona. Niterói: Traço&Photo Editora, 2008, 62 p. Capa com ilustração de Miguel Coelho.
Esta seleção de trovas, quadras ao gosto popular como lhes chamou Fernando Pessoa, foram retiradas do livro Rapsódia para sanfona, lançado ontem, sábado, no Calçadão da Cultura da Livraria Ideal, em Niterói (telefone 55-21-2620-7361), do poeta, jornalista, crítico, advogado, Promotor e Procurador de Justiça, Sávio Soares de Sousa, primeiro presidente do Grupo de Amigos do Livro (hoje Grupo Mônaco de Cultura), que tanto realizou em favor da vida literária fluminense. E, continua, como se vê, a enriquecer, com mais este livro aparentemente singelo. E belo.
domingo, 6 de julho de 2008
Sávio Soares de Sousa, Rapsódia para sanfona
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Um comentário:
Apartir desta obra começo a me intessar por essa modalidade literária de poesia.
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