sábado, 13 de outubro de 2007

Lembrança de Roberto Alvim Corrêa, por João Alexandre Barbosa



No meio de centenários literários ilustres – o de Murilo Mendes, o de Cecília Meireles e os próximos de Carlos Drummond de André e de Augusto Meyer –, o de Roberto Alvim Corrêa (1901-1983) passou esquivo e sem menção, de certa forma mimetizando o próprio professor, editor e crítico literário.

Na verdade, era um homem esquivo e discreto que somente a conversação ou a correspondência com amigos deixava ver toda a riqueza de suas experiências e, sobretudo, de suas inquietações.

Pelo menos, foi sempre esta a impressão que me passou quando o conheci nos inícios dos anos sessenta em que, já sendo autor de dois livros de ensaios críticos, Anteu e a Crítica, de 1938, e O Mito de Prometeu, de 1951, assim como de uma tese de concurso em literatura francesa, François Mauriac, essayste chrétien, também de 1951, e que circulou, em francês, numa pequena tiragem editada pela Editora Agir, publicou o seu Diário, em 1960, e sobre o qual escrevi uma resenha no ano seguinte ao da publicação. E a tanto se resume a sua obra escrita e publicada. (...)

Entretanto, além de ter sido um dos diretores, juntamente com Alceu Amoroso Lima e Jorge de Sena, da prestigiosa e útil coleção Nossos Clássicos, da Agir, teve uma atuação editorial surpreendente.

É que ele criou e dirigiu, entre 1928 e 1936, em plena Paris daquela festa descrita por Hemingway, uma editora que, sob o selo de Éditions Corrêa, publicou obras e autores importantes da literatura francesa, sobressaindo os seis volumes de Approximations e os quatro do Journal, de Charles du Bos, assim como ensaios do crítico Albert Béguin, autor do admirável L’âme romantique et le réve, além de obras de Jacques Maritain, François Mauriac, Gabriel Marcel, Marcel Raymond, entre outros.
(...)

Tudo isso para uma reconstrução daquilo que foi o aspecto mais instigante de sua biografia, o do criador de uma editora européia, e que terminou por ter importância em sua própria atividade intelectual, dando-lhe uma generosa tendência à disseminação da cultura francesa no Brasil nos anos quarenta e cinqüenta, como foi anotado por Drummond em sua crônica.

Excerto do artigo de João Alexandre Barbosa (1937-2006), publicado originalmente na revista Cult, S. Paulo, ano V, nº 55, e depois editada como parte integrante do livro Mistérios do dicionário, S. Paulo: Ateliê, 2004. Leia o texto integral do artigo nos Arquivos do e-grupo Cultura Letrada http://groups.google.com/group/cultura-letrada .

Para se conhecer o pensamento crítico de Roberto Alvim Corrêa, deve ler-se também o número especial da revista Tempo Brasileiro, “Prometeu e a crítica”, nº 55, Rio de Janeiro: out.-dez./1978.
A reconstrução de sua atividade de editor em Paris, a que se referiu João Alexandre Barbosa, infelizmente ainda não se fez. Sua neta, a bibliotecária Anne Marie Lafosse Paes de Carvalho, depositária de parte do seu arquivo pessoal, poderá fazê-la como uma de suas pesquisas no LIHED/UFF – Núcleo de Pesquisa sobre Livro e História Editorial no Brasil da Universidade Federal Fluminense. Será bela forma de homenagear a figura querida de seu avô e também de dar uma bela contribuição à história editorial franco-brasileira.

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